domingo, 27 de outubro de 2013

Missa




O horário da Missa é sete horas da noite, senhoras, casais, famílias, mulheres, homens, crianças se arrumam e ficam cheirosos para o momento de agradecer e pedir a Deus pela paz. Na cidade de Siupé a missa acontece na praça da cidade, o padre e a banda ficam em cima de um palco. Há o grupo das senhoras: Umas solteiras, outras casadas, divorciadas, longe dos filhos... chegam com o terço nas mãos e com muita concentração ficam a espera do começo. Há o grupo das jovens, essas rezam por algum amor, futuro, família, vestibular, formatura, faculdade e ao próximo. Os jovens, casais, etc. É muito complicado definir a busca de cada um. Mas uma coisa é fato, o momento da missa é um momento de paz, alegria onde as pessoas tem a oportunidade de refletir, gradecer, se abraçarem...
No momento em que está ocorrendo a missa uma figura um pouco fora do padrão aparece, se trata do Manoel, um sujeito que acorda e vai dormir bêbado todos os dias. Para alguns ele chama pouco a atenção, para outros ele incomoda, já algumas pessoas rezam pela paz desse homem. Todos os domingos, esteja o Manoel bêbado ou lúcido ele toma banho, coloca a sua melhor roupa e vai a missa. O que pouca gente desconfia é que ele tem Deus no coração, seja o Deus da consciência, das boas energias, das boas intenções ou da vontade de fazer o bem. Entupido de cachaça ele se esforça por rezar o pai nosso, Ave Maria ou repetir as palavras do Padre. No final da Missa todos vão para a casa, alguns para estar com suas famílias outros para se unir a solidão. Ele na rua continua e a bebida novamente se entrega. Depois que já está muito bêbado, procura um local para se encostar, pois ainda mora na casa da mãe e não quer chegar em casa naquele estado. E na rua ele dorme, ali ele sonha. Sonha com o dia em que o mundo o entendia e ele entendia o mundo, dos momentos de sua infância em que ia a missa aos domingos com sua mãe e seu pai... ele bem comportadinho rezava o terço quantas vezes fosse preciso. Naquele tempo o padre carregava ele no colo e as mesmas senhoras que hoje o desprezavam ali o chamavam de fofo. Algo se perdeu, o fato é que nem ele nem sua mãe verdadeiramente o sabem, seu pai muito jovem faleceu, ele não entende o mundo e o mundo não o entende, a verdade é que o resultado é desastroso. A noite passa, nada mais resta na rua que o silencio e o Manoel dormindo. Quando acorda ele não se lembra o que o sonhou, no seu coração só lhe resta o sentimento de um mundo confuso e frustrante. A única verdade que se sabe, é que o Manoel nunca fez mal a ninguém, só a ele mesmo e a sua mãe... que procura explicações, mas não sabe exatamente o que deixou de fazer, pois sempre amou o filho incondicionalmente.

Escrito por Danie Vidigal 

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Registro


 
 
 
Neto do Daniel em 2050:  Vô, é verdade que na sua época era impossível compartilhar as fotos com os amigos?

Daniel: Não exatamente impossível, mas elas eram impressas e aí podíamos lembrar dos momentos com amigos presentes.

Neto: Mas que sentido faz sair, se divertir e não registrar?

Daniel: Nós também registrávamos, mas os resultados das fotos demoravam um pouco mais para sair. Tudo ficava em um armário.

Neto: Mas era fácil encontrar fotos de quando bebê?

Daniel: Sim, sim, fácil, pois ninguém tinha muitas fotos.

Neto: Estranho mesmo, outro dia o papai e a mamãe queriam uma foto de quando eu era bebe e simplesmente não encontraram. Minhas fotos de quando eu era bebe estão perdidas em um disco infinito de 100000 TERAGIBITES.

Daniel: Pois as minhas estão ali. Mas há serviços pagos para recuperar suas fotos. E existe outro espaço gigantesco no seu perfil do KlamBook, no qual com muita dificuldade eles poderão encontrar suas fotos. Naquele tempo as mães paravam para fazer os álbuns.

Neto: Parar para fazer álbum? Que mundo pacato vocês viviam.

Daniel: Tudo ficava guardado e fácil de encontrar, quando recebíamos aquela visita gostosa em casa. Pronto, tínhamos conversa para toda uma tarde.