terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Fluidez



Instrumento afina-se
Amor imagina-se
Ilusão permanece,
Num vulto fantástico,
Realidade amadurece.
Quando a orquestra do amago toca,
Os milhares de pombos voam...
Pois eles se tornam livres.
O maestro coordena,
Dessa vez sem batuta...
Só lhe resta expressar com o corpo.
Cadê a rima?
Ia-se,
Escondia-se...
Foi-se a rima.!!!
Não precisa,
Pois o belo não combina.
Como pétalas de uma rosa...
Os dedos caem suavemente no piano,
Similar ao frescor da vida,
As cordas dos violinos vibram,
Na correta frequência.
É difícil produzir... esse espetáculo,
Mas nem tão difícil assim,
é apreciar,
O belo.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Aleatório...

Texto Daniel Vidigal
Ilustração Fernanda Vidigal




O ser humano é o resultado da aleatoriedade do universo,
Confuso são os acasos,...
Não a origem,
Hora bom,
Hora ruim...
Devemos dançar a música coerente,
Numa confusão de sensações...
Não... não teimoso...
Não se trata da origem do ser humano...
Se trata da aleatoriedade...
Ela é controlável...
Quando tudo se entende.
O problema é que...
Quase ninguém...
A compreende.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Aparente Paz

Agora com a ilustração de Fernanda Vidigal





Impressionante como uma cidade vista de fora é tranqüila e acolhedora, sem conflitos, sem muitas perturbações. Pode-se sentar num café e observar a gostosa rotina que um canto desses oferece. De manhã cedinho há pouco engarrafamento, as pessoas chegam no trabalho rapidinho, as mãe andam pelas calçadas com as crias, algumas vão ao supermercado outras tem que deixá-las na escola. Durante o dia as pessoas andam pelo comércio movimentado, lojinhas simpáticas, sol quente; nas praças há sombra suficiente para acolher as pessoas aparentemente desocupadas.
Na cabeça de todas essas pessoas, há contas a pagar, paixões não vividas, conflitos com o vizinho, problemas de comércio. Dessa forma, se você se aprofundar em sua observação dessa paz aparente, percebe-se isso.
Um senhor chama muita atenção nessa cidade, pois ele fora grande produtor de Cacau, prefeito por oitos anos e deputado estadual por 16 anos. Rico, bem sucedido, educado, bem casado e no fim da vida. Nessa pacata cidade ele tem paz, tempo para brincar com os netinhos, as netinhas, passear com sua primeira e única esposa, comer bolinhos, tomar café, etc,etc. Uma pessoa bem resolvida, feliz com tudo que viveu, que realizou e  construiu com muito trabalho: um patrimônio e uma família. Aos domingos sempre almoça na casa de sua filha caçula, seu xodó de sempre; quando os irmãos sentem saudades do pai, é aí que vão a seu encontro. Já tem netos de 30 anos e sempre gasta horas dando lhes conselhos sobre negócios, política, mulheres e casamento; é um verdadeiro líder dentro de sua família e a admiração que os filhos tem por ele chegou até os netos. Os filhos não quiseram seguir nem o ramo do Cacau nem o ramo da política; formaram-se em direito, engenharia e medicina; apenas dois netos herdaram essa preferência do avô pela política. As coisas na vida desse senhor sempre tinham andado tão bem, que ele não nunca teve necessidade de se perguntar, se questionar, se avaliar. Nessa maré de paz em que vivia, era uma pessoa arrogante, e não lhe sobrava tempo para avaliar sua postura durante a vida, nos negócios ou na política;  nunca enxergou nada além da linda família e do patrimônio criado. Na consciência, às vezes, lampejos de lembranças e ações lhe vinham à memória, mas nada que o mobilizasse. Sua mulher era um pouco conflitada com as posturas dos homens perante a vida e o amor ao próximo, mas nem ela mesma conseguia um pouco de reflexão nesse homem.
Passara o dia lendo na praça; chegando em casa saudou  sua esposa que, muito atenciosa lhe serviu um café. Do nada um surto lhe deu na cabeça e a imagem de uma linda menina,de seus três anos,  o atordoou um pouco. Perguntava-se de onde viria a imagem daquela garotinha; realmente, ele não se lembrava, mas seu subconciente guardava tudo e o castigava há 20 anos, a respeito daquela garotinha.  Em 1990, ano de campanha para deputado estadual, os investimentos na política foram muito altos, as cobranças dos partidos por resultados eram  ferozes, e era necessário fazer uma campanha mais arrojada, pois a chefia  não permitiria menos de 30 mil votos. A política é assim, ao entrar, o tipo de cobrança e anseios desvia os valores e objetivos dos mais honestos, é preciso ser uma fortaleza para se manter integro nesse meio. Preocupado com seus investimentos, conseguira apoio da televisão estadual para fazer 2 minutos de campanha em horário ao vivo. Mobilizaram-se diversos seguidores políticos que o ajudaram com muito esforço, a visitar locais carentes e prometer coisas descontroladamente, sem nenhum tipo de planejamento, essas ações infelizmente fazem parte desse jogo. Um minuto de seu horário foi destinado a uma área carente, sem hospital, luz e escolas por perto. Nessa área uma garotinha de três anos foi a escolhida para estar em seu colo. Era uma criança iluminada, tinha os olhos vivos, uma energia intensa, dessas de quem vem com uma missão na terra. E mesmo com as pressões que este homem estava sofrendo, seu coração se tornava terno, a garotinha o tinha alcançado. Mas o jogo precisava continuar, seu coração voltou a ficar duro, esquecido da bagagem e missão para a qual veio a terra e o horário foi gravado. Ele, sem saber se teria a verba para executar aquilo, sem planejamento algum, prometeu a essa comunidade hospitais, luz, uma escola e um parquinho. A gravação tinha sido um sucesso e todos comemoraram.  Na gravação que foi ao ar, a imagem da garotinha lhe dando tchau, viveria para sempre no fundo da memória desse homem. Ele se elegeu deputado nesse ano com 35 mil votos, as ansiedades passaram, ultrapassou os 30 mil votos, após se eleger ocorrem outras pressões que descomprometem tudo o que foi prometido à população, é complexo e difícil de explicar, os interesses são confusos, as linhas de poder se chocam, o dinheiro é direcionado de maneira pesada, lenta, inconseqüente. Os hospitais, os parquinhos as escolas, os negócios e as pressões políticas não lhe permitiam lembrar de nada, o jogo continuava, nenhuma agenda, nenhuma anotação. A garotinha teve uma forte pneumonia, seus pais foram ao hospital da cidade, ela foi medicada, e voltou a casa. No dia seguinte de manhã ela passava bem, queria brincar de novo na rua, teve uma rápida tosse, precisava novamente de atendimento urgente, mas o hospital era longe e não havia transporte no momento.  Morreu aos 4 anos no braço da mãe a caminho do hospital. Teve um enterro humilde, deixou atrás de si uma grande dor e muita alegria que ainda teria para viver. Nessa comunidade morava a amiga da amiga da empregada da casa do deputado; entre as pessoas humildes as noticias ruins correm rápido, gostam de espalhar a todas horas essas notícias que abalam o coração de todos.O deputado perguntou se tinha alguma culpa disso; em seguida lembrou-se da feroz  e confusa disputa de verba e se aliviou ; se sensibilizou, mas não sentiu responsabilidade alguma por seus atos.
Então naquela tranqüila tarde, estranhamente a imagem da garotinha lhe vinha a mente com mais freqüência. Só aí ele percebeu que aquilo o atordoara por anos: aquele hospital não feito,  a falta de verbas, aquela disputa por poder, não era nada com ele, mas algo dentro dele o forçava a se dar uma satisfação. E assim.atordoado, foi dormir. Sua mulher que sempre dormia com ele, naquele dia dormiu no sofá, sentada vendo a novela. O senhor dormia profundamente e certa hora viu a imagem da garotinha no seu quarto; seu coração quase lhe veio a boca e uma grande quantidade de energia reprimida por anos desabou sobre seu corpo  e, sentindo alivio e susto ao mesmo tempo, percebeu que a imagem era ilusão, procurou a mulher e não a achou; a energia gasta por ver aquela imagem tinha sido tanta, que não conseguia se levantar, retornou ao sono. Então sonhou com o lugar onde nasceu, com sua humilde mãe, pai e irmãos, de sua comunidade no interior da Bahia, da ajuda mútua que havia naquele lugar, de como se distanciou de tudo, de como a ferocidade do mundo com seus interesses  o afastaram de suas origens . E nesse sonho, ele sentiu uma grande dor sobre seus pulmões, uma dor que era absurda para uma criança de 4 anos e um senhor de 75, toda a sua cabeça e seu corpo haviam sido transferidos para o momento em que a garotinha tinha falecido, procurava a sua mulher ao lado da cama, meio acordado e meio dormindo, mas não achava nada, ela dormia profundamente no sofá, o grito forte e estrondoso da garotinha triturava sua cabeça e todo seu corpo, procura explicações para tamanha energia e não achava. A garotinha pedia para ele cuidar dela, ele não conseguia responder. Em certo momento ele pegou desesperado na mão da menina  e lhe disse:  prometo que cuido de você querida, para toda a eternidade e os olhos da garotinha brilharam e o coração do homem não agüentou de emoção. Sua última lembrança de vida, era ele saindo de seu corpo, colocondo-a no colo, ela o abraçava com muita confiança, eles por fim haviam se encontrado. Tivera uma morte feliz. 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Confusão Temporal


 
 
 
Os tempos de antigamente,

Antigamente já eram belos,

Os tempos de antigamente,

Náquele presente já eram confusos,

Os tempos do presente,

Nunca agradam,

Os tempos do futuro,

Sempre assustam,

Os tempos do presente,

Quando eram futuro,

Muito assustaram,

Os tempos de hoje em dia,

São os tempos do presente,

Mas na verdade o presente,

É um presente da vida,

É tempo de estar disposto,

E construir,

Fazer....

Construir de verdade,

Para sempre,

Não uma construção de antigamente,

Nem das do lamentoso hoje em dia...

A eterna construção...

Que enternece o coração.

A procura de Vida


 
 
 
Com olhos firmes e atenciosos todos os movimentos são observados, os anos se passaram e a velhice chegou, uma luta por uma causa morta. Todo o vigor foi empregado em uma tola disputa de poder. Mas agora ali, no fim da vida ele observa ... a vida. As flores, crianças, mãe, pais, irmãos de mãos dadas... procura uma solução para uma causa sem solução, voltar no tempo, plantar o bem, empregar toda a sua energia em vida. As pessoas passam e o cumprimentam, ele como se fosse aquele ancião que nunca fizera o mal, apenas sorri. Sozinho, sem amigos... todos morreram, por sorte ele tem economias. Ele gosta de saudar crianças, isso lhe lava a alma. Brinca com cachorros, isso lhe enternece o coração. Gosta de olhar para as estrelas, isso lhe dá esperanças. Tem consciência de que sua vida é um saco vazio, mas os olhos ainda brilham, o coração ainda bate, os cabelos grisalhos ainda se mechem no vento.... o presente ainda está presente, nunca é tarde. Em um andar vivo, lamentoso... ele se locomove, não tem vontade de ir para casa, quer se encher de vida, mas o frio chega, os médicos recomendam, para casa ele vai, dorme, acorda sai de novo pelas ruas para observar a vida.