terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Reflexão: Passos

 
Agora com a ilustração de Fernanda Vidigal
 
Reflexão: Passos

Passos,
Devem ser dados,
No tempo...
Na oportunidade......
Complexo segredo da vida...
Seguir a intuição...
No tempo e na direção certa.
No meio do caminho...
Existem as topadas...
E majestosa maturidade,
Que pouco temos...
Onde encontrar?
Para entender?
O longo... longo de verdade ...
Prazo,
Tudo nos ensina.
Assim,
Aos poucos...
Vamos entendendo o brilho da vida.

sábado, 28 de dezembro de 2013

Reflexão: Passos


Passos,
Devem ser dados,
No tempo...
Na oportunidade......
Complexo segredo da vida...
Seguir a intuição...
No tempo e na direção certa.
No meio do caminho...
Existem as topadas...
E majestosa maturidade,
Que pouco temos...
Onde encontrar?
Para entender?
O longo... longo de verdade ...
Prazo,
Tudo nos ensina.
Assim,
Aos poucos...
Vamos entendendo o brilho da vida.
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SINOP

 




 
 
Escrito por Circe Dirceu Vidigal

SINOP

Para Daniel Vidigal Duarte Souza...
Meu neto Engenheiro, Poeta, Escritor e agora Surfista

Faltavam três semestres para se graduar, quando ela pediu para conversar com a mãe. Queria trancar a matrícula para acompanhar o namorado que acabara de se formar e seguia para a Bahia, onde já lhe esperava um trabalho garantido como Engenheiro Agrônomo. Ela sabia o quanto a mãe era liberal e acessível, mas, em questões de estudo, exigia a formação completa, com diploma e tudo. O rapaz veio lhe falar e lhe assegurou que ela terminaria seu curso, vindo por etapas fazer cada semestre. Era um jovem sério, inspirava confiança e estavam apaixonados. Querendo o melhor para sua menina, a mãe concordou, que amor de verdade não se contraria. É prêmio na vida de qualquer um. Na Universidade, já moravam juntos, numa casinha de madeira, quase um barraco. A mãe já conhecia e só por aí já podia avaliar o tanto de amor que os unia, para que sua menina, criada à beira-mar, ali fosse feliz. Concordou. Confiou. Mas avisou: - Por mim tudo bem, desde que essa promessa seja cumprida e você consiga se formar. Mas vais enfrentar uma barra, com sua avó e suas tias; não vão te deixar isso barato, mas estarei de teu lado; afinal, sou a mãe.
E lá se foram os dois, felizes da vida;. Na cidadezinha do interior da Bahia onde ficariam, para todos os efeitos eram recém casados. O órgão de trabalho do “marido” era do Governo e imaginem o escândalo se descobrissem que o “ doutor” era amasiado.
Naquela época as comunicações eram precárias, nada de e-mail, skype, e mesmo telefone comum; esse era via telefonista. Mesmo assim se comunicavam sempre e foi com muita surpresa que a mãe recebeu um lindo postal onde se lia: “ ‘’Pois é: resolvemos casar. ”
Ahhhh Estava grávida, com certeza! Que maravilha! Mas ainda não era isso. Eles apenas haviam descoberto todas as vantagens que estavam perdendo por não serem casados: auxílio disso, auxílio daquilo e até mesmo o aluguel da casa! E resolveram casar, pois teriam maior folga financeira. A mãe cá pensou: eita sistema brabo; de um jeito ou de outro põe as pessoas “ na linha” dentro dos conformes da sociedade. Por ela, bastava que fossem felizes, mas se estavam se arriscando a ficar mal vistos, era o melhor que faziam. Afinal de contas, um papelzinho assinado no cartório era pouco aborrecimento pra muita compensação. Casaram apenas no civil, com a presença dos pouquíssimos amigos que conheciam a situação; a mãe, é lógico, lá se foi, levando o chapeuzinho mais lindo que havia encontrado na única chapelaria ainda existente na rua 7 de setembro, no Rio; uma graça de chapéu, o fetiche de sua menina! Foi tudo muito simples e alegre , com exceção do porre que a mãe tomou. Estava habituada a beber, era um bom copo, entornava bem sem se embriagar, pois sentia sempre quando era preciso parar. Mas dessa vez foi um vexame total. Vomitou as entranhas. Talvez a bebida fosse falsificada ou ela, inadvertidamente, tivesse misturado destilados com fermentados – isto é, cerveja com wisky ou batida - sabe-se lá o que foi, pois isso nunca lhe acontecera antes!
Passou-se algum tempo e o esperado bebê não aparecia. Exames disso, daquilo, foram até para Salvador, em busca de ajuda. Estavam nessa batalha quando o marido foi transferido para o Mato Grosso. E, nessa exata época, o bebê mandou seu telegrama. Acho que de tanto futucarem a mãe, ela desentupiu de alguma coisa e engravidou. Foi uma alegria geral ! O marido ia com uma função importante. O órgão para o qual trabalhava deveria orientar, assessorar, implementar um projeto de Colonização privada, muito importante para o Governo Federal.
Nessa época reinava aqui uma Ditadura, fruto de um Golpe Militar e estavam se descabelando com o início do Movimento dos Sem-Terra, localizado no sul do país. Era preciso fazer alguma coisa. Além do mais, havia o problema da Amazônia e a esse governo não interessava que a região fosse povoada por posseiros e sim por uma agricultura de modelo capitalista. Um famoso grileiro do Paraná conseguiu a cessão de enorme gleba de terra para montar um projeto de colonização e desafogar o sul do país onde as propriedades camponesas eram cada vez menores e muitos perdiam a terra, indo engrossar o contingente dos sem-terra. A propaganda feita prometia um verdadeiro Eldorado. Jornais, revistas, rádio e Tv faziam parte da campanha e toda a terra foi vendida. O preço de 20 hectares no Paraná comprava 200 hectares no projeto SINOP. Esse nome era apenas a sigla do empreendimento Sociedade Imobiliária do Noroeste do Paraná, mas acabou pegando.
É um longa história, que serviu mesmo como tese de mestrado para a mãe, que nessa época, já avó, estudava na USP.
Quando seu netinho estava para nascer, lá se foi ela, sem saber nada sobre seu destino. Até Cuiabá voou de Vasp, mas de lá não havia estrada para ônibus; assim, seguiu num pequeno Bandeirantes da TABA – Transportes Aéreos da Bacia Amazônica, que voava baixo o suficiente para você ir explorando, inicialmente o cerrado e, aos poucos, tufos de mata que iam se avolumando quanto mais do norte nos aproximava-mos. De repente, um enorme, gigantesco retângulo desmatado, com ruas já traçadas e pequenas mudas de árvores nativas plantadas nos canteiros do meio. Aqui e acolá uma construção em meio àquele barro vermelho, que nos seis meses de “inverno” era pura lama e nos seis meses de “verão” era uma poeira só. Conheci depois.
Ao descer do avião e colocar meus pés naquele barro vermelho pensei: belo material para uma dissertação sobre agricultura familiar.
A casa da filha era grande, toda de madeira, numa das ruas laterais. O piso era de cimento colorido de vermelho e, ao chegar, deparei-me com a minha menina, com um barrigão enorme, empunhando furiosamente um pesado escovão de ferro, com uma flanela embaixo, como os que conheci na casa da minha avó , dando brilho naquele piso. Bela chegada! Mas ela estava feliz e isso é o que importava. A outra vó chegou dias depois e nosso encontro foi ótimo: nos gostamos logo da primeira vez. Ela adorava uma cervejinha e, ao longo dos netos que foram nascendo, as duas trabalhavam muito, riam bastante e tomavam muita cerveja. Uma lavava e a outra passava, fora ajuda na arrumação da casa e na comida, Poderia dizer que tudo era só alegria não fossem os mosquitos. Primeiro, enchemos o quarto com aquelas espirais, mas o genro reclamou da fumaça. Partimos para o aerosol mas a emenda foi pior que o soneto – Que cheiro é esse, reclamava ele ! O que fazer ? – como diria Lenin ! Bem, tiveram uma idéia genial: foram à cidade e compraram alguns metros de telas apropriadas, preguinho e martelo tinha em casa. Quando ele chegou já estava tudo pronto e, dessa vez, fincaram o pé e não se falou mais no assunto.
Poucos meses depois ela estava grávida de novo e lá se foi a vó novamente para Sinop. Dessa vez já tinha um projeto de pesquisa pronto e o roteiro de todos os lugares onde deveria ir pesquisar . Cuidava da filha para que repousasse, para que se alimentasse bem por causa da amamentação, fazia o que podia para ajudar; depois compilava dados, descrevia fatos acontecidos, pitorescos ou tristes e ia dormir embalada por canções de caminhoneiros que aprendeu a gostar. As músicas eram uma história, com começo, meio e fim; era como se fosse uma novela, e as letras lembravam aquele velho e famoso cantor, Vicente Celestino, só não tinham a potência de sua voz. Ela achava tudo diferente, mas gostava daquele Brasil tão agreste e simples.
Poucos anos depois nasceu a única menina da família e aí a vó completou sua pesquisa. Saía de bicicleta depois do dever cumprido e visitou do Bispo às prostitutas do lugar. Ficou um belo trabalho. A primeira dissertação de mestrado sobre Sinop e que se intitulou:
Sinop: A Terra Prometida
Geopolítica da Ocupação da Amazônia
Foi nessa segunda viagem que nasceu o menino a quem essa crônica foi dedicada.


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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Dona Iranildes

Recolocando alguns contos com ilustrações da minha mãe...





Senhora Iranildes reúne a família todos os domingos para almoçar, mãe de sete filhos e Vó de quatro netos, ela prepara tudo com muito carinho e nesses dias a casa é preenchida de alegria e juventude. Os domingos são os dias mais felizes de sua semana, todos a querem muito, e a ela filhos e neto lhes fazem muito bem. Casou-se com Senhor Itamar quando tinha apenas 16 anos, naquela época era uma moça cheia de vida energias e sonhos. Até vergonha de namorar ela tinha... o casamento com Itamar foi uma paixão louca... primeiro amor.
Em poucos anos a paixão morreu, as flores pararam de brotar e era preciso criar raízes para que o amor viesse a vencer, em prol dos filhos, da família e de sua felicidade o amor venceu. E assim ao longo dos anos ela foi vivendo, onde dos filhos ela não se desligava, a preocupação sempre foi frequente... uma mistura de vida sua e dos outros. As vezes ela tentou se desligar, viajar, até esquecer que tem filhos e marido... mas ali sempre ficou. Nos dias de hoje, ela sempre fica a pensar se os filhos estão felizes nos seus casamentos, se os netos estão estudando, se a pressão do marido está alta ou baixa, se ele tomou todos os remédios... se irá conseguir reunir a família no domingo, etc. Quando a casa esvazia, só resta ela e o marido..ali está ela todos os fins de tarde, sentadinha, assistindo novela e pensando que hora irá ligar para sua filha caçula... pois no fundo ela tem medo de incomodar... a felicidade dos filhos.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Declaração...

Amor sempre te escrevi poesias, firmes, simples mas, bem fortes em seus significados. Tudo o que te escrevi sempre saiu do coração, sempre foi leve, espontâneo.... a minha escrita é do jeito do nosso amor. A dois dias você me pediu para lh...e escrever algo, a verdade é que nunca devemos pedir isso a um poeta, pois escrever é uma ação natural, como nesse momento escrevo normalmente, as palavras saem dos meus dedos de maneira bem suave. Vivemos em busca de um padrão chamado felicidade, as vezes nos perdemos um pouco, logo logo nos encontramos, o fato é que os centrados sabem bem o que querem. Para mim a base de um relacionamento são os sonhos, eles devem ser comuns, não podem ser diferentes...acho que nos dois possuímos os mesmos sonhos, e isso faz com que o nosso relacionamento seja muito especial. Não sou de acordo com a frase " os opostos de atraem", claro que não devemos em hipótese alguma estabelecer regras para um relacionamento, mas não gosto dessa frase. Somos complexamente parecidos, você é uma mulher agitada, mas que carrega um coração calmo e sábio nos momentos importantes, já eu sou um homem calmo e assustadoramente apaixonado pelo seu agito e sua sabedoria. Então posso concluir que nesse e em diversos outros aspectos somos muito parecidos. Pouco antes de te conhecer escrevi o seguinte verso:



http://buscainternapaz.blogspot.com.br/2013/04/vamos-dar-um-beijo-de-novela.html



Parecia que você estava por chegar, hoje vivo com você um amor puro e gostoso. Carregado de boas intenções... as sensações são presentes... só posso dizer que você me faz muito feliz.



Beijos

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Ventos...


 
 
 
Ventos...

Na noite lembram sons...

Distantes,

Rasantes.

Sintonizados com os grilos...

Com as rãs...

Deixam a orquestra afinada,

Cachorro late,

Gato mia,

É saudade que bate.

Mas de que?

Misterioso vento...

Aconchegante noite,

Produz sensações...

Mas não fornece resposta.

Sinta,

Enfrente,

Desfrute...
 
Escrito por Daniel Vidigal

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

A fenda....






Uma fenda no tempo...
discreta,
sincera,

calada...
Quando menos esperávamos,
a chama incandesceu...
na arte da paixão...
do amor...
há rumores,
que amor e ódio andam de mãos dadas...
se o ódio toma conta...
ficamos de mãos atadas.
Da dedicação ao dialogo.
Vem a construção...
da solidez nasce o amor...
assim é a nossa fenda.
Intensa, construtiva e sincera.

Escrito por Daniel Vidigal

domingo, 27 de outubro de 2013

Missa




O horário da Missa é sete horas da noite, senhoras, casais, famílias, mulheres, homens, crianças se arrumam e ficam cheirosos para o momento de agradecer e pedir a Deus pela paz. Na cidade de Siupé a missa acontece na praça da cidade, o padre e a banda ficam em cima de um palco. Há o grupo das senhoras: Umas solteiras, outras casadas, divorciadas, longe dos filhos... chegam com o terço nas mãos e com muita concentração ficam a espera do começo. Há o grupo das jovens, essas rezam por algum amor, futuro, família, vestibular, formatura, faculdade e ao próximo. Os jovens, casais, etc. É muito complicado definir a busca de cada um. Mas uma coisa é fato, o momento da missa é um momento de paz, alegria onde as pessoas tem a oportunidade de refletir, gradecer, se abraçarem...
No momento em que está ocorrendo a missa uma figura um pouco fora do padrão aparece, se trata do Manoel, um sujeito que acorda e vai dormir bêbado todos os dias. Para alguns ele chama pouco a atenção, para outros ele incomoda, já algumas pessoas rezam pela paz desse homem. Todos os domingos, esteja o Manoel bêbado ou lúcido ele toma banho, coloca a sua melhor roupa e vai a missa. O que pouca gente desconfia é que ele tem Deus no coração, seja o Deus da consciência, das boas energias, das boas intenções ou da vontade de fazer o bem. Entupido de cachaça ele se esforça por rezar o pai nosso, Ave Maria ou repetir as palavras do Padre. No final da Missa todos vão para a casa, alguns para estar com suas famílias outros para se unir a solidão. Ele na rua continua e a bebida novamente se entrega. Depois que já está muito bêbado, procura um local para se encostar, pois ainda mora na casa da mãe e não quer chegar em casa naquele estado. E na rua ele dorme, ali ele sonha. Sonha com o dia em que o mundo o entendia e ele entendia o mundo, dos momentos de sua infância em que ia a missa aos domingos com sua mãe e seu pai... ele bem comportadinho rezava o terço quantas vezes fosse preciso. Naquele tempo o padre carregava ele no colo e as mesmas senhoras que hoje o desprezavam ali o chamavam de fofo. Algo se perdeu, o fato é que nem ele nem sua mãe verdadeiramente o sabem, seu pai muito jovem faleceu, ele não entende o mundo e o mundo não o entende, a verdade é que o resultado é desastroso. A noite passa, nada mais resta na rua que o silencio e o Manoel dormindo. Quando acorda ele não se lembra o que o sonhou, no seu coração só lhe resta o sentimento de um mundo confuso e frustrante. A única verdade que se sabe, é que o Manoel nunca fez mal a ninguém, só a ele mesmo e a sua mãe... que procura explicações, mas não sabe exatamente o que deixou de fazer, pois sempre amou o filho incondicionalmente.

Escrito por Danie Vidigal 

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Registro


 
 
 
Neto do Daniel em 2050:  Vô, é verdade que na sua época era impossível compartilhar as fotos com os amigos?

Daniel: Não exatamente impossível, mas elas eram impressas e aí podíamos lembrar dos momentos com amigos presentes.

Neto: Mas que sentido faz sair, se divertir e não registrar?

Daniel: Nós também registrávamos, mas os resultados das fotos demoravam um pouco mais para sair. Tudo ficava em um armário.

Neto: Mas era fácil encontrar fotos de quando bebê?

Daniel: Sim, sim, fácil, pois ninguém tinha muitas fotos.

Neto: Estranho mesmo, outro dia o papai e a mamãe queriam uma foto de quando eu era bebe e simplesmente não encontraram. Minhas fotos de quando eu era bebe estão perdidas em um disco infinito de 100000 TERAGIBITES.

Daniel: Pois as minhas estão ali. Mas há serviços pagos para recuperar suas fotos. E existe outro espaço gigantesco no seu perfil do KlamBook, no qual com muita dificuldade eles poderão encontrar suas fotos. Naquele tempo as mães paravam para fazer os álbuns.

Neto: Parar para fazer álbum? Que mundo pacato vocês viviam.

Daniel: Tudo ficava guardado e fácil de encontrar, quando recebíamos aquela visita gostosa em casa. Pronto, tínhamos conversa para toda uma tarde.

domingo, 29 de setembro de 2013

Poema: Sem Título


 Imperfeitos somos....

Juntos melhoramos......

Simplesmente,

Superamos,

Com o amor...

Tudo podemos,

Assim...

Nos amamos.

Escrito por Daniel Vidigal, inspirado em Melina Sales


 


domingo, 22 de setembro de 2013

Bagunça na Praia

Poema: Bagunça na Praia

Batuque,

Latinha,...

Farofa,

Ypióca,

É som para todo gosto...

Praia,

Gostosa,

Vento,

Sol...

A espontaneidade reina,

Som sem regras,

E os comportados nas barracas?

Ô leve espontaneidade,

Tenha um pouco de piedade...

Dessa padrão de Felicidade.

Escrito por: Daniel Vidigal

sábado, 31 de agosto de 2013

Pião de trecho--- Capítulo 11 (final)- O passar dos anos

Mal Pedro concluiu sua primeira obra em Cubatão e já havia outra para ir no interior do Pará, e depois em Minas Gerais e foi também ao Rio Janeiro e ao Brasil ele passou e pertencer.... Carine suportou esperançosa que Pedro desistisse daquela vida por dois anos, depois desse tempo ela não se separou, mas também passou a ter uma vida paralela. Continuou uma mulata bonita e atraente, sempre que podia deixava as crianças com a mãe e inventava uma desculpa para ir a Salvador passear, fazer cursos, etc. E ali ela se interessava por outros rapazes assim como Pedro se interessava por outras garotas. O casamento passou a ser praticamente uma fachada, o único motivo que unia os dois e os mobilizava de verdade era quando ocorria algum problema com os filhos. Gabriela cresceu e se tornou uma menina desobediente, a verdade é que Carine não podia com ela, a menina sentia uma espécie de raiva e amor a todos os homens, talvez o preço de uma referência masculina ausente de sua vida. O único que ela respeitava de verdade era Israel, primo de Pedro, quando este lhe dava broncas ela se comportava e lhe escutava, ele tinha um carinho muito especial pela sobrinha. O respeito que ela tinha por Pedro ela confuso, ela sabia que aquele homem lhe originara a vida, mas sua intuição feminina desde pequeninha entendia e processava tudo, o vazio que o pai deixava em casa e solidão da mãe, lhe remetia a um ódio inconsciente do pai... uma mistura de amor e ódio que mais tarde iria refletir nos seus relacionamentos com os homens. Já Tiago de certa forma achava o máximo a luta do pai, talvez os primeiros nos de sua vida em que Pedro passeava com ele na beira do rio, lhe permitiu um respeito e um vínculo eterno com o pai. Ele foi crescendo e onde estivesse procurava falar com Pedro todos os dias.
As vezes que Pedro ia para casa praticamente só falava em toneladas de tubulação a serem montadas. Tirava um tempinho sim para falar com Carine e saber dos filhos. Por um lado ele sentia um orgulho imenso, pois não faltava nada em casa e os dois filhos eram bons alunos na escola.
Quinze anos se passaram, em 2009 Pedro já era encarregado de Solda e no trabalho seguia o exemplo de Ulisses. Carine era dona de um salão de beleza. Tiago cursava o terceiro ano em Salvador e Gabriela ainda estudava em Cachoeira.
14 de Dezembro de 2009, Aeroporto de Salvador
Lá estava Pedro rumo a Coari interior do amazonas, ali seriam construídas duas estações de compreensão para aumentar o abastecimento de Gás em Manaus.
- Pedro, você sabe quantas toneladas de tubulação serão montadas?
- 400 toneladas de aço carbono mais 250 de inox.
- Como é que está a distribuição de firmas nesse consorcio?
- A TDK é a dona da obra e a Ticna Engenharia está com o projeto, a parte de civil é da Proenegem Engenharia.
- Muito bom....
Já esperava o horário do avião como se aquilo fosse pegar um ônibus. Então o celular tocou:
- èe passou... passou... tá na lista....
- Como? – disse Pedro- Não entendi.
- Passou... O Tiago passou para Engenharia Civil nas cotas, sou eu Carine. O Jeremias tá reservando o boi e o churrasco.
Naquele momento Pedro como de costume pensou em suprir sua ausência dizendo que ia transferir o dinheiro da festa para Jeremias, o dinheiro pela presença, como tinha feito nos últimos 15 anos. Mas Tiago pegou o telefone:
- Pai, passei, passei... valeu a pena, todo o sofrimento que passei em Salvador sem dinheiro, obrigado por ter sido meu amigo todos esses anos. Mesmo estando longe, você é meu melhor amigo. Vem para cá!.
Naquele momento as ideias de Pedro tornaram-se confusas, frases como “meu filho Engenheiro Civil” eram disparadas o tempo todo pelo seu inconsciente. As injustiças que ele passara na vida todos aqueles anos trabalhando no trecho. A quantidade de engenheiros mau educados que já suportara para permanecer no emprego. E agora seu filho. Era tudo bem confuso, aqueles anos todos ele trabalhará por um propósito, o futuro dos seus filhos. Lembrou-se de Gabriela e Tiago, e sentiu muito orgulho de uma luta, um sacrifício... pois ele sacrificará a sua vida e a de Carine pelos filhos e este era a primeira vez na vida que tomava consciência disso. Estava emocionado, seu filho ia cursar engenharia civil... uma grande festa estava para acontecer e ele não ia poder comparecer. Então um de seus amigos que acabara de chegar ao aeroporto lhe perguntou:
- Quem é a gerencia dessa obra?
- Ponto final- foi o que Pedro respondeu.
Pegou o celular e ligou para seu superior. Ainda não estava com a carteira assinada:
- Não vou, tenho que resolver uns problemas.
- Só esse embarque.
- Não vou, tenho que resolver uns problemas.
Pegou o celular e ligou para Gabriela:
- Filha, se prepara que eu to chegando aí de surpresa.
Pegou um ônibus até a rodoviária e partiu para cachoeira. No caminho ia olhando para a BR-101 e começou a sentir saudades de sua infância. Só queria chegar em casa e fazer a surpresa que Carine e seus filhos sonharam por tantos anos, aquele era o dia do ponto final. Quando chegou em cachoeira, lá estavam todos no mesmo campo de futebol de anos atrás. Quando ele chegou a alegria de todos era evidente, o dia era de festa. Seu filho jogava em campo e o churrasco não parava de sair. Carine estava um pouco estressada, ela se preocupava com tudo . Pedro olhou tudo aquilo, o rio, a mulher, os filhos... ele tinha um coração bom, ainda estava em tempo de conquistar todo mundo, principalmente reconquistar Carine. Se aproximou dela e depois de muitos anos tornou a ser carinhoso com ela:
- Parabéns pela mãe que você, estou muito orgulhoso de você.
Pedro ainda não sabia como ia ganhar dinheiro, mas era ciente de que ia vencer, seu conhecimento de solda era avançado, isso lhe permitiria arrumar empregos por ali, não tão bem remunerados, mas perto de casa. Queria dizer algo ao filho, como um pai bobo que quer ajudar, mas a única coisa que sabia da faculdade de engenharia era que as matemáticas eram bem puxadas. O sol foi se pondo, ele queria se reaproximar da filha, puxava conversa, Gabriela naquela dia mais que ninguém estava muito orgulhosa do pai. O chefe da obra de Coari tornou a lhe ligar para aumentar a proposta do salário. Mas Pedro nem atendeu. Aquele foi o dia do ponto final.

FIM
Escrito por Daniel Vidigal

domingo, 25 de agosto de 2013

Milho... Milho... Pamonha... Pamonha...

"Saí de casa um 13 de agosto há 36 anos atrás, morava no interior da Paraíba, lembro-me como se fosse hoje a minha mãe pedindo para eu não ir, que esperasse pelo menos mais um dia, pois dia 13 era dia de azar.
Eu ...me desculpei e lhe disse: Querida mãe, desculpe-me, mas hoje é o meu dia de sair de casa, ganhar o mundo, quem é escolhido para ser feliz não deve temer essas coisas.
Hoje posso dizer com toda a certeza que sou um homem feliz e realizado. Tenho filhos saudáveis, passei por seis capitais, tenho grandes amigos que guardo no meu coração espalhados por esse Brasil. Considero cada final de dia uma grande e nova vitória em minha vida. Mas me diga uma coisa: Você vai querer milho ou pamonha?

- Pamonha por favor"

Paguei a pamonha (bati uma foto...ele achou estranho) e com olhos firmes ele continuava rumo a mais uma vitória em sua vida.

domingo, 18 de agosto de 2013

Veleiro




Em um mar tempestuoso navego,

Relâmpagos, Ondas... trovões
...
Nele simplesmente trafego,

Com força...

E o corpo...

Manejo as cordas,

Eis uma questão de futuro...

Velozmente,

Sigo meu rumo.

Escrito por Daniel Vidigal


quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Pião de Trecho --- Capítulo 10: O meu pai foi pião, minha mãe solidão


 
 
Pedro se firmou e ganhou a confiança de Ulisses no trabalho, dois anos se passaram e aquele ambiente que ele tanta estranhara um dia já lhe era comum. Sua vida era se divertir, trabalhar, beber a noite, procurar mulheres, conversar excessivamente de obras, ligar para a família e comprar presentes para os filhos e para a mulher. Certa sexta-feira os comentários começaram cedo:

- Hoje vai ter cover de raça negra.

- Vai ter só as melhores papai.

Toda a obra estava empolgada com um show de um cover de raça negra que ia acontecer, os ingressos já estavam comprados e era dia de ligar cedinho para Carine:

- Ligo logo cedo para a mulhé, depois que ela dormi eu me mando pros show.

E assim foi naquele dia, naquela sexta-feira Pedro como de costume ligou para o orelhão e eles falaram o básico rapidamente. A vida de Carine se tornara entediante, era uma espécie de infelicidade interna e vergonha inexplicável para as pessoas, pois estar naquela fase da vida com o marido tão ausente de casa era frustante. Ela não conseguia disfarçar dos filhos certo rancor por aquela solidão. Pedro foi para a farra e ela foi para a casa. Logo que desligou o telefone Tiago começou a vomitar, já Pedro começou a beber, depois Tiago piorou, Pedro também piorou, Carine procurou uma carona para o hospital que de pronto não encontrou, Pedro pegou um taxi com os amigos e na porta do show ele ficou, Tiago chorava cada vez mais forte, Pedro falava cada vez mais alto.

Carine no desespero pediu a ajuda de Jeremias de que de pronto colocou ela, Tiago e Gabriela na moto rumo ao hospital. Chegando lá ele se desculpou e disse que não poderia ficar, mas que ia deixar a moto com Israel para que ficasse de plantão e assim ocorreu. Gabriela chorava muito, pois a neném queria estar em casa, a mãe não conseguia acalmar ela, foi quando Israel a pegou pelo colo e a neném sorriu, com sua pelezinha moreninha e seus pequenos caixos negros. Para sempre uma relação paterna entre Gabriela e Israel estava formada. A noite passou devagar, os médicos deram vários soros para Tiago, o neném ficou sobre observação até o amanhecer. Israel ficou do lado de fora do hospital brincando com Gabriela e Carine sem dormir na sala de espera.

Pedro entupido de bebida estava em estado de estase, cantando todas as músicas de raça negra, abraçado com os amigos, mexendo com as mulheres e bebendo cada vez mais. Em pouco tempo arranjou uma namorada no show e entre amigos eles brincavam:

- De fudé demais papai. Eu quero é mais, eu quero é mais....

A noite passou e o dia amanheceu. Carine chegou em casa com as duas crianças no colo, agradeceu a Israel e ficou sozinha por horas olhando o rio. Queria explodir, quebrar a casa, bater nas crianças mas só lhe restou chorar. Chorou por três horas seguidas e se lamentou, se perguntou mas não encontrava respostas.

Pedro acordou de ressaca no final da tarde de sábado, a primeira coisa que fez com os amigos foi resenhar:

- A menina mora aqui perto, na semana vou lá dormir com ela.

Até que de tardinha chegou a hora de ligar para casa, ele escutou em tom desesperado:

- Pedro passei a noite no hospital com o Tiago, ele ficou muito doente. E você longe. Para com isso, volta logo. Quem ficou lá com a gente foi seu primo Israel.

Ele respondeu em tom confuso:

- O Tiago tá doente? Diz para ele que vou comprar o caminhão mais bunitu daqui. Vou levar presente para você também. Ele já está bem?

Pedro tentava compensar a ausência de casa com presentes. De alguns amigos de trabalho ele escutou:

- Rapaz, mulher é assim mesmo. Tenta de todo jeito chantagear o pião. Garoto, garoto vá se acostumando com essas coisas.

De um lado ficou Carine na solidão, e do outro Pedro confuso, mas tomado de conta por aquele ambiente de obras. A segunda-feira chegou e já haviam pré-fabricados para montar.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Conto: Presente de cinco anos





 Até que enfim hoje estou fazendo cinco anos. Já tinha um tempão que eu estava querendo entrar no meu mar com meu pai para aprender a pegar peixes, mas a minha mamãe sempre dizia:
- Só quando estiver maior, p...
or enquanto só pode ver da beira.
E da beira do mar sempre vi meu papai entrar para pescar, até que a vela da jangada se tornasse bem pequenininha e ele desaparecesse naquela imensidão. Sempre sonhei com dia de entrar no mar junto com ele e esse momento foi hoje. Acordamos cedinho e como de costume a mamãe fez tapioca com queijo e ovo, sempre lembrando a meu pai:
- Você tome cuidado com meu filho, tô te avisando viu.
E meu papai respondia dando risada:
- Fica tranquila mulhé. Tá fazendo cinco anos hoje, já é um homem.
Até que a grande hora chegou, papai com todo cuidado do mundo colocou um colete salva vidas em mim, já saí com ele vestido de casa. Quando chegamos na beira da praia vislumbrei aquela jangada linda e grande bem de pertinho. O vento soprava muito forte e o mar não estava calmo, mesmo assim meu papai nem se abalou. O barulho do vento batendo sobre a vela era muito alto, a vela é gigante. Com muita força e colocando uns roletes embaixo da jangada ele começou a empurrar ela em direção ao mar. E me disse:
- Essa parte é dura, tem que ter muita força.
Eu muito impressionado fiquei com a força dele, é daí que veem os peixes gostosos que a mamãe prepara. Quando chegou na beira, ele me indicou que sentasse e me disse:
- Tudo que você tem que fazer é ficar sentado, não ter medo e segurar bem aqui. Segura forte o resto é comigo. Então ele mexeu nas velas e a jangada começou a ganhar o mar. Umas ondas brancas vinham bem fortes e quando nos chocávamos com ela parecíamos que íamos voar. Meu papai olhava para mim e eu sentia confiança, só assim o medo passava. E ondas após onda o mar se tranquilizou e ele me disse:
- Aqui é onde há mais perigo, pois as correntes são muito fortes.
A terra foi ficando cada vez menor e o mundo foi se tornando cada vez mais azul, só o papai manejava a jangada. Ele ia me ensinando a pescar:
- Nesses vento de agosto devemos seguir aquelas corrente ali, é pra lá que os peixe vão.
Eu olhava pouco entendia mas achava o máximo.
- Há um morro que nunca perdemos de vista, é aquele ali, se um dia você perder tem de ir em direção a ele. Chegamos na corrente dos peixes.
Então ele pegou a rede e com muita força lançou sobre o mar. Veio um montão de peixes, de todos os tamanhos, ele lutando com os peixes os colocou todos em uma grande vaso.
- Já temos comida para uns quatro dias. Outro dia aprende mais. Vamos.
Quando chegamos em casa a minha mãe estava esperando. E papai disse:
- Já pode começar a brincar no mar, é bem corajoso.
Mamãe preparou um jantar bem gostoso e eu fui dormir com o melhor presente de aniversário que meu papai poderia ter dado.
 
Escrito por Daniel Vidigal

domingo, 4 de agosto de 2013

Pião de Trecho --- Capítulo 9: Montagem na veia

(Vai passar de dez capítulos...)




No dia seguinte todos fizeram os exames e depois já assinaram as carteiras de trabalho. Aquelas torres, aqueles grande tanques, aquelas pessoas andando de um lado para outro... esse mundo industrial deixava Pedro impressionado.

 
 
Aos poucos ele foi se enturmando e entrando no espírito do trabalho do time de Ulisses. A sua equipe foi formada com as pessoas do próprio quarto. Nobrega era o encanador líder da equipe, este já estava a 16 anos no trecho e bebia todos os dias. Jackson era o lixador, era evangélico estava no trecho a 12 anos, passava as noites rezando e seu objetivo era ganhar dinheiro no trecho e depois sair. Jarbas era o soldador, estava no trecho a seis anos e sempre que podia saia para paquerar garotas. Haviam mais três ajudantes: Junior, Sales e Pablo... estes como Pedro estavam em sua primeira empreitada e passavam por sensações parecidas. Ulisses passava todos os dias no quarto para contar as novidades do empreendimento: Os equipamentos que chegavam, local onde eles trabalhariam. Sempre trazia umas cervejinhas para ficar conversando com o pessoal. O seu maior objetivo com esta ação era unir e equipe e fazer com todos se sentissem integrados ao seu grupo. A entrada dos trabalhadores na obra era impressionante, todos os dias entravam 2000 mil homens. Então o trabalho árduo foi começando, havia que carregar tubos metálicos pesados, carregar os equipamentos de solda, deixar a área limpa, levemente aquele ambiente industrial foi se tornando Familiar para Pedro, em compensação ele começou a entrar no embalo de tomar uma cervejinha todos os dias, ela aparentemente aliviava a saudade de casa e o desligava do dia estressante. Todos os dias ele ligava para Carine para saber dela e dos filhos, e lhe dizia que o fim do mês estava chegando, que ele mesmo iria ao banco depositar o dinheiro, que não iria faltar nada em casa. Carine apenas lhe dizia:

- Pedro o Tiago está morrendo de saudade, volta logo. Você paga essas dívidas e volta para casa.

Ele escutava mas estava se contagiando com a cultura de estar fora de casa, ele foi enraizando a pegada das obras de montagem, onde muito se bebe, se trabalha, se diverte, se brinca, se fofoca, etc. A vida do trecho apesar dos sacrifícios tem diversos encantos. O trabalhador de campo tem uma maneira boa de encarar o ambiente de trabalho, quando ele está satisfeito, brinca muito, coloca apelidos dos mais engraçados... namoram as meninas que o momento oferece. Nesse mundo Pedro foi mergulhando, ali foi ganhando dinheiro, o casamento foi esfriando, as idas a casa eram de três em três meses. Carine queria que aquela solidão acabasse logo, ela não procurava pensar o que Pedro poderia estar fazendo.

Perto das obras sempre se formam bares que são frequentados em sua maioria por trabalhadores. No caso de Cubatão existia um sambinha todos os dias, e nesses bares as mulheres sedentas por wisk não demoram de aparecer. Pedro começou indo um dia por semana, depois dois, depois três... sempre que podia namorava as meninas, começou a ficar viciado em horas extras para ganhar mais dinheiro, pois as farras eram caras, mesmo assim em casa nada faltava. Um ano se passou, Pedro tinha ido apenas três vezes em casa e ele já era membro permanente e competente da equipe de Ulisses. E já conversava em quantas toneladas sua equipe iria montar naquele mês. Já Carine, agradecia a Deus por não estar passando fome, pois nada faltava em casa, mas queria Pedro pertinho dela dando atenção a sua família, pois as dívidas já estavam pagas e Carine não entendia porque ele não largava aquela vida maluca.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Poema: Navegando em altas correntes

 
 
 
Poema: Navegando em altas correntes

Cada sentimento
Fase da vida
...raiz que nasce
Vem aos pouquinhos invadindo
... Corpo e carne vão se diluindo
As profundezas vem a tona,
Se divertindo,
Com o momento...
O coração bem atento
Bate...
Cada vez mais sintonizado
Com boas vibrações
Leves
Espontaneas
Sintonizados estamos
Agora é só desfrutar.

Escrito por Daniel Vidigal.
Ver mais
— com Melina Sales

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Dona Iranildes



Senhora Iranildes reúne a família todos os domingos para almoçar, mãe de sete filhos e Vó de quatro netos, ela prepara tudo com muito carinho e nesses dias a casa é preenchida de alegria e juventude. Os domingos são os dias mais felizes de sua semana, todos a querem muito, e a ela filhos e neto lhes fazem muito bem. Casou-se com Senhor Itamar quando tinha apenas 16 anos, naquela época era uma moça cheia de vida energias e sonhos. Até vergonha de namorar ela tinha... o casamento com Itamar foi uma paixão louca... primeiro amor.
Em poucos anos a paixão morreu, as flores pararam de brotar e era preciso criar raízes para que o amor viesse a vencer, em prol dos filhos, da família e de sua felicidade o amor venceu. E assim ao longo dos anos ela foi vivendo, onde dos filhos ela não se desligava, a preocupação sempre foi frequente... uma mistura de vida sua e dos outros. As vezes ela tentou se desligar, viajar, até esquecer que tem filhos e marido... mas ali sempre ficou. Nos dias de hoje, ela sempre fica a pensar se os filhos estão felizes nos seus casamentos, se os netos estão estudando, se a pressão do marido está alta ou baixa, se ele tomou todos os remédios... se irá conseguir reunir a família no domingo, etc. Quando a casa esvazia, só resta ela e o marido..ali está ela todos os fins de tarde, sentadinha, assistindo novela e pensando que hora irá ligar para sua filha caçula... pois no fundo ela tem medo de incomodar... a felicidade dos filhos.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Pião de Trecho---Capítulo 8: São Paulo


A viagem foi muito cansativa, ela durou três dias e muitas vezes o ônibus demorava de chegar nos pontos de alimentação cadastrados pela empresa. Antes de chegar a Cubatão foi necessário passar por São Paulo capital, aquilo foi um novo mundo para Pedro, estava assustado e vislumbrado ao mesmo tempo. Aquele transito, prédios, avenidas eram completamente diferente do que Pedro realmente esperava. Sentia-se acuado, um pouco amedrontado, pararam para fazer um lanche em um posto de Gasolina, o sotaque das pessoas era bem diferente, ele não encontrou o perfil acolhedor das pessoas com o qual estava acostumado em Cachoeira. Pouco depois o ônibus seguiu para Cubatão, chegando lá a vista era horrível, chegou a ser agressivo para a Natureza de Pedro.




Ele notou que os demais poucos de importavam, concentrados estavam no escopo da Obra:

- Daquela torre até aquele tanque será o primeiro Pipe-Way. Só serão 35 Toneladas de suportes.

O ônibus parou em frente a um prédio velho que tinha a vista para outro prédio velho. Então o administrativo indicou que todos descessem do ônibus e lhes entregasse as carteiras de trabalho. Na espera havia outro administrativo responsável pelos alojamentos, com o sotaque de São Paulo ele falou:

-  Como foram de viagem?

- Muito bem, demoramos três dias.

- Aqui o alojamento são oito por quarto. Acabei de comprar lençol e toalha. O restaurante é ali em frente. Vieram quantos nesse ônibus?

- 37 Pessoas.

- Tem vaga para todo mundo. É só mandar eles irem para o terceiro andar e lá vão encontrar as camas prontas e as chaves dos armários.

- Onde é que tem um lugar para tomar uma gelada, não aguento mais ficar na água.

- Boteco com gelada aqui é o que não falta.

Pedro pouco tinha conversado e se enturmado no ônibus. Subiu até o terceiro andar e escolheu uma cama. Quando sentou na cama pensou em voltar.



Olhou a sua volta, todos estavam animados com a chegada:

- Vamos fazer os exames só amanhã. Hoje é dia de procurar lugar para tomar uma bem gelada.

Ulisses teve a preocupação de procurar Pedro e perguntar como ele estava:

- Como tá garoto? Gostou?

Pedro assustado respondeu:

- Mais ou menos, não era isso que eu tava esperando.

Então Ulisses que sabia que não poderia aliviar, respondeu:

- Pedro, aqui tu tá para ganhar dinheiro. Mas tem que me ajudar no serviço.

Pedro sentiu uma confiança muito grande nas palavras de Ulisses, diferente de Otamar ele inspirava o verdadeiro respeito e compromisso com as obrigações que o trabalho iria exigir.

- Eu tenho um filho da tua idade, sabia? Os administrativo vão cuidar de tudo. Se tiver algum problema pode me procurar, Pião da minha equipe não passa aperreio.

Ele se sentiu mais confortável com a presença de Ulisses, então a noite comeu um bom prato de comida, ligou para o orelhão de sua rua para falar com Carine, chorou de saudades e dormiu.

domingo, 28 de julho de 2013

Encontro





Perdidos,
Nos encontramos,
E agora...
... Juntos,
Trilhamos.

Escrito por Daniel Vidigal,






 — com Melina Sales.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Fotos

 
 
 
 
 
 
A imagem mais linda,

Não está no facebook,

Nem no Orkut,
...
É linda e intensa pessoalmente,

Van Gogh teria que voltar a pintar,

Para reproduzir a energia e a intensidade...

dos seus olhos.

Escrito por Daniel Vidigal Inspirado em Melina Sales

domingo, 21 de julho de 2013

Pião de Trecho --- Capítulo 7: O Trecho






O meses foram passando e as dívidas de Pedro só aumentavam, não conseguia de jeito algum equilibrar os gastos com as receitas. Seu casamento foi se tornando uma bomba, brigavam praticamente todos os dias:
- Que culpa eu tenho se fui demitido. Tu acha que eu queria essa falta de dinheiro? Tu acha que eu gosto de olhá pá cara do gerente nojento do banco, que só fala enrolação e me dá mais juro?
- Eu não saí de casa para viver esse inferno- respondia Carine.
Seu Samuel tentava intervir, mas Pedro não o escutava. Sem dinheiro e falta de habilidade para lidar com a situação o casamento estava por um fio. Ele tinha apenas vinte anos e ela dezenove. No intuito de relaxar ele começou a tomar cachaça todos os dias e sempre que podia jogava uma sinuquinha com Israel. A reaproximação com o primo foi inevitável, adepto dos trabalhos informais, estar com ele era como uma fuga, um convite para se desligar da realidade. Quando Pedro chegava em casa bêbado, uma nova briga explodia com Carine. No dia seguinte ele ia trabalhar amargurado: limpava terrenos, trabalhava de pedreiro, carregava caminhões, colhia laranjas, etc. Ficou com fama de grevista e não conseguia assinar a carteira em outros lugares. Sua luta sempre lhe permitiu que não faltasse comida em casa, viveu um grande estresse, mas de maneira alguma passou fome. A família de Carine começou a falar mal dele:
- Menina, cuidado para não virar homem de farra e te deixar com as duas crianças. Homem quando fica desempregado e começa assim, é só ladeira abaixo.
Pedro estava a ponto de explodir com tanta pressão, tudo ao seu redor ia contra ele, mas o mesmo também não conseguia direcionar as energias para as coisas certas.
Certo dia ele estava jogando sinuca com Israel e um homem se convidou para jogar. Era um homem de seus cinquenta anos e tinha o semblante bem cansado, seu nome era Ulisses. Juntos os três foram tomando cachaça e conversando futilidades. Até que uma hora ele perguntou para Pedro:
- O que faz da vida?
- Trabalhava nas obra, mas agora to desempregado e vivo do que aparece para eu fazer.
- Aqui tem pouca obra, num presta não. Tú tem sangue no olho para viajar e trabalhar fora. Sou da montagem industrial. Amanhã a tarde saio com toda a minha equipe para Cubatão em São Paulo, vai ter uma ampliação lá. To precisando de mais um pião para ir cumigo. Tu tem carteira? Quer vir?
Pedro ficou calado. Então Ulisses completou a proposta:
- Lá com as horas extras dá para tirar dois salários. Bem facinho.
Então Pedro que estava carregado de ódio, cansado e disposto a manter o padrão de vida, respondeu:
- Tô dentro.
- Você tem que tá amanhã cinco horas da tarde de mala arrumada na rodoviária.
Naquele momento Pedro queria que toda a família de Carine soubesse o quanto ele é bom, ele sim sabia conseguir os empregos... iria voltar a pagar as contas, de maneira alguma tinha medo do mundo, conhecia outros homens que viajam e pagavam todas as suas prestações.Como o casamento não ia bem e estava emocionalmente distante dos filhos, o dinheiro estava em primeiro plano. Chegou em casa bêbado naquele dia, por isso deixou para dar a noticia para Carine no dia seguinte. Quando ele acordou, a primeira coisa que ela disse:
- São oito horas já. Trabalha mais não?
- Arrumei foi empregão, vou tirá dois salário. Vou hoje de tarde para São Paulo.
- Mas Pedro, tu tá sendo afobado. Eu posso procurar trabalhar também. Tem muito restaurante aí precisando de menina boa.
- Mulhé minha num trabalha não, fica em casa cuidando dos meus filhos.
- Deixa de ser abestalhado. Tu vai cair nesse mundo, sendo que podemos resolver tudo por aqui.
- Vou me embora hoje as cinco horas da tarde.
Então Carine percebeu que todos os seus argumentos seriam em vão. Ele estava resolvido a viajar, estava tomado por algum ódio que ninguém, nem ele mesmo, conseguia explicar. No fim da tarde ele ficou um pouco reflexivo, nunca na vida tinha visto aquele homem, sequer sabia como era São Paulo... apenas se lembrava de algumas cenas de novelas. Olhava para o filho, para a filha...
As quatro horas em ponto ele estava na rodoviária com Carine e as duas crianças, Tiago chorava sem parar, de algum modo ele sabia que seu papai iria para longe. Gabriela estava apenas com quatro meses. Aos poucos outros trabalhadores foram chegando com suas esposas, eles conversavam sobre o escopo da obra em Cubatão:
- Lá serão duzentas tonelas de tubulação e noventa de estrutura.
- Negativo companheiro, ali serão  trezentas de tubulação e cento e quarenta e cinco de estrutura.
- A Dupond Construtora pegou parte dessa obra também.
- Acho que eles vão entra com o suporte...
Pedro observou de longe aquela conversa, mas pouco sabia do que aquelas pessoas falavam. Encima do horário o ônibus contratado pela empresa chegou, havia uma grande faixa “ Klan Engenharia”. Um rapaz perguntou bem alto:
- Todo mundo aí sabendo do salário e com as carteiras nas mãos?
Todos deram sinal de positivo, Carine fez uma última tentativa:
- Pedro não vá, por favor.
- Tchau, vou vencer lá em São Paulo. Vou voltar com dinheiro, será por pouco tempo.
Quando Pedro estava entrando no ônibus, Tiago que já tinha quase dois anos, pronunciou doces palavras:
- Papai...dimbora não papai...dimbora não papai.
Os olhos de Pedro se encheram de lágrimas, mas ele reprimiu o choro e entrou no ônibus. Estava um pouco cabisbaixo. Então um homem puxou conversa com ele:
- Primeira vez que cai no trecho?
-É.
- Ra Ra Ra, depois você acostuma. 
Dentro do ônibus todos conversavam a respeito de toneladas, firmas, estrutura, Gerentes. Pedro observa a Vila que tinha sido criado, agora ele estava indo para bem longe. Carine ficou apavorada com as duas crianças na rodoviária. O choro de Tiago era estrondoso, Gabriela nada entendia... e para longe Pedro viajava.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Pião de Trecho --- Capítulo 6: Desempregado


No dia em que foi demitido Pedro olhava o rio, as arvores, sequer sabia com que cara iria chegar em casa. O dinheiro já estava curto com o emprego... agora desempregado o mesmo não tinha tempo de processar o ocorrido. Aquele foi seu primeiro trabalho e com ele havia estabelecido a projeção de uma nova vida. Pensava em sua vida gostosa de casado, em Carine grávida de novo, no Som, no fogão, na geladeira, no sofá... naquela casinha arrumada, mas ele precisava estar trabalhando para manter todos aqueles sonhos. Suas responsabilidades e obrigações lhe pesavam como uma navalha. Um sentimento de ódio de Otamar e Aluízio tomou conta dele, se arrependia de ter subido naquele palanque, mas vida de pião é assim, não é dono de empresa, um dia pode estar trabalhando o outro pode estar na rua. A ideia de Carine grávida. Há! Essa era a pior de todas, a chegada de cada eletrodoméstico em sua casa, dos presentes comprados para seu filho.  O termo utilizado para a demissão do pião de trecho é “amarrar a lata”, a primeira amarração de lata o pião nunca esquece. Chegando  em casa deu a noticia que fora demitido, sua esposa teve sensações parecidas e de desepero... mas foi mais sábia que ele e lhe instruiu que mantivesse a calma, haviam direitos a receber até trabalhar de novo. Poucos dias depois ele recebeu todo o dinheiro do seu processo demissional, a grana era boa, mas a sensação de desemprego dilacerava sua auto-estima. E as prestações dos móveis e dos eletrodomésticos eram pesadas. Em poucos meses após a demissão nasceu sua filha e deram lhe o nome de Gabriela, a alegria tomou conta da casa, um bebê animava os ânimos de todos, mas os compromissos permaneciam. Até que a grana  acabou, então ele virou um leão e começou a ganhar dinheiro com o que aparecia, sua experiência em obras lhe permitia um número grande de trabalhos informais, mas esse dinheiro não era suficiente para equilibrar as contas, pois haviam muitas prestações. Carine percebeu que o problema de todo aquele desgaste estava nas contas atrasadas dos bens materiais, então lhe sugeriu que tudo fosse vendido e assim poderiam viver com pouco, mas em paz, ela escutou:
- Tá doida, vamo andá pá trás é mulé? Já já eu acho outro emprego, daqui de casa num sai nada, é tudo nossas conquista.
Em pouco tempo Pedro se tornou estressado e pouco carinhoso, trabalhava demais e a instabilidade financeira acabava com ele. Ele tinha certeza que a qualquer momento um novo emprego bom iria aparecer. Um dia ele foi pedir dinheiro emprestado ao seu primo Jeremias e escutou:
- Pedro, tu nem um sofá milhó que o meu, tua televisão é colorida... tú que se livrar das divida? Vende tuas coisa.
Por algum motivo na mente de Pedro ele achava que Jeremias tinha a obrigação de arcar com suas dívidas. O mesmo saiu em direção ao rio nervoso  e inconformado, lá tomou um banho para ver se passava o estresse, em vão. Diferente do primeiro filho, agora era um pai emocionalmente um pouco mais distante com Gabriela.  

domingo, 14 de julho de 2013

Pião de Trecho --- Capítulo 5: As consequências


Pedro quando chegou em casa explicou a família o ocorrido, o mesmo tinha sido corajoso em lutar pelos seus direitos, a partir daquele dia os exploradores nunca mais iriam deixar de pagar, tinha passado a conhecer a força do trabalhador, o Jorge iria lhes defender para sempre. Seu pai Samuel que pouco sabia de trabalhos de carteira assinada, mas muito sabia da vida informou que o mesmo se precipitou:
- Filho, você deveria ter tido um pouco mais de paciência, esses sindicalistas viajam o país atrás de bagunça e depois vão embora. Nois do campo devemos lutar pelos direito, mas também devemo cuida do nosso ganha pão, filho acho que você foi um pouco inocente.
Pedro tentou argumentar de todo jeito para seu pai, sua irmã escutava tudo com muita atenção, mas não conseguiu convencer. Samuel finalizou a conversa:
- Agora só resta rezar a Deus.
No dia seguinte todos retornaram ao trabalho como se nada tivesse acontecido, a secretária de Aluízio avisou que poderiam sair ao meio o dia com o cheque em mãos e recolher o pagamento no banco. O Gerente regional, Rodrigo, que era chefe de Aluízio estava na obra naquele dia, ele não aceitava a greve mesmo com o atraso do pagamento.
- Aluízio, que porra de controle é esse que você tem sobre seus funcionários, que apenas quatro dias de atraso são suficientes para uma paralisação? Que caralho de chefe de obra você é?
- Fui surpreendido, o Sindicato apareceu aqui sem avisar, sequer nos deu uma chance de negociar. E rapaz, o pior de tudo, vocês pagaram depois da paralisação, fica parecendo que só funcionamos sobre pressão. Sinceramente é muito complicado segurar essa turma com atraso de pagamento. ..
Ficaram discutindo nessa linha durante uns cinco minutos, o sindicalista Jorge seguiu para o sul da Bahia para realizar novas fiscalizações, em cada obra o mesmo tinha seus informantes e isso facilitava as paralisações. Otamar circulava do lado de fora da sala, o mesmo dava tudo por saber o que aqueles dois conversavam. Ele bem oportunista, bateu na porta e entrou:
- Bom dia Seu Engenheiro, agora eu quero saber o que vamos fazer com os grevista? Bota para trabalhar ou coloca eles para a rua.
Rodrigo se interessou pelo assunto e perguntou:
- Como assim grevistas?
- Esses menino aqui da região, foi quem fizeram a greve, tudo grevista, não gostam de trabalho não, é só dor de cabeça.
Aluízio ficou pensativo e deu sua opinião:
- É verdade, todo o movimento de paralisação foi realizado por um menino da região que eu mesmo contratei, devemos fazer uma limpeza.
- Tudo bem, Aluízio agora não é momento de demitir grevistas, deixa a poeira baixar e você os demite como corte de gastos, assim terá tempo para melhorar a sua equipe. Você tem 45 dias- finalizou Rodrigo fechando sua pasta e indo embora.
Cada dia de trabalho era terrível para Pedro, assim como Samuel tinha alertado o sindicalista Jorge ganhou o mundo e nunca mais apareceu, a vulnerabilidade em relação ao patrão voltou ao normal, o comportamento estranho do encarregado Otamar o assustava. Sua vida já era cheia de compromissos e para complicar ainda mais sua situação financeira Carine estava grávida de novo. Ele se arrependia todos os dias de ter subido naquela pampa discursar. O engenheiro Aluízio não falava mais direito com ele e isso também o preocupava.
Exatamente após 45 dias do término da greve Pedro e todos de Cachoeira da equipe de Otamar foram demitidos. No dia seguinte os substitutos chegaram, todos eram de Santo Antonio de Jesus, a mesma cidade de Otamar. Em poucos meses a situação financeira da obra voltou ao normal, o sindicalista Jorge se elegeu deputado estadual e Pedro ficou desempregado com três bocas para alimentar. Pela primeira vez na vida sentiu de verdade o peso, a crueldade e as injustiças que o mundo reserva a algumas pessoas. 

terça-feira, 9 de julho de 2013

Pião de Trecho --- Capítulo 4: Greve


Tiago o primeiro filho de Pedro tinha nascido e Carine já esperava pelo segundo neném, a vida de casado tinha as suas dificuldades, porém, havia vários aspectos compensadores... Ela era uma esposa muito carinhosa e preparava um lanche bem gostoso todos os dias no final da tarde. Ele por sua vez tinha pique para chegar em casa e brincar com o filho, o nascimento da criança tinha iluminado aquele lar e era um grande combustível para que eles superassem as dificuldades de uma vida a dois. Fim de tarde era hora de olhar o rio com a criança e passear pelas ruas. Carine conseguiu concluir apenas o segundo grau na escola, pois tinha muita responsabilidade em casa.
Jeremias com duas crianças em casa tinha um pique parecido, porém, a inconstância da feira o deixava com uma instabilidade financeira um pouco maior. O nome de seus filhos eram Julio e Marina, estes sempre brincavam juntos com Tiago, principalmente na beira do rio.
Israel bebia quase todo dias e pouca atenção dava ao seu filho Paulo que tinha nascido, tinha um bom coração, mas não conseguia rumo na vida, não parava quieto com uma mulher e trabalho estável nem pensar. Mas continuava o garoto bom e amigo de todos os primos. O casamento, as responsabilidades e as novas amizades tinham deixado os três um pouco mais distantes, mas o vinculo familiar continuava forte.
O ano de 1994 era ano de eleições e os sindicatos em geral estavam fazendo muita fiscalização nas obras. Os trabalhadores da fábrica de Papel eram vinculados ao SINDCELL, Sindicato dos trabalhadores do ramo de celulose, este vinha sofrendo influência política de alguns partidos de oposição. O encarregado Otamar era amigo do presidente do Sindicato e tinha lhe comunicando tudo o que acontecia de errado no empreendimento. Em maio daquele ano o pagamento dos trabalhadores da fábrica de papel estava atrasado três dias e não tinham previsão para solucionar o problema. Pedro estava contando com o dinheiro para fazer a feira e ajudar seu pai, o salário nunca tinha atrasado e o mesmo já estava quase passando fome junto a família e seu pai.
Otamar comunicou ao presidente Jorge do Sindicato que o ambiente de trabalho era favorável a uma paralisação. Aluízio estava muito preocupado com a situação, o dinheiro simplesmente não saia e a empresa lhe dizia calmamente que ele tinha que esperar. Otamar bem traiçoeiro dava conselhos ao engenheiro:
- Senhor Engenheiro manda sair logo esse pagamento, os pião tá tudo doido, to preocupado bastante.
E ao mesmo tempo por telefone indicava ao Sindicato:
- O negocio aqui tá feio, os pião tudo passando por necessidade, e os homi nem aí. A gente precisa de ação já, só parando para esses homi resolver nosso problema.
Então no dia 08 de Maio de 1994 o sindicato estava na entrada da obra com uma pampa e um grande auto falante no fundo, o presidente iniciou o discurso:
- Trabalhadores, bom dia, é com muita honra que tenho o prazer de estar aqui com todos vocês nesse momento tão complicado, pois é de meu conhecimento que o Patrão os obriga a trabalhar para no fim do mês não querer pagar. Senhores isso é verdade?
E coro levantou a voz:
- Éeeeeeee.
- Por tanto senhores eu que ando quarenta anos em obras, nesses trechos, eu que tenho visto homens como esses donos dessa fábrica de papel enricarem com o suor dos trabalhadores, percebo que uma ação mais drástica deve ser tomada. Todos nós sabemos que as riquezas do Patrão é fruto do sangue que o trabalhador doa no campo. Nossas peles são abençoadas por Deus, só os guerreiros aguentam o sol do meio dia, quando sacos de cimento devem ser carregados, a massa deve ser misturada, os tijolos devem ser colocados...
Nessa linha o presidente do Sindicato foi discursando, os trabalhadores foram ficando emocionados com as palavras do Presidente Jorge, naquele momento eles tinham a impressão que podiam tudo, que eles mesmos eram os donos das fábricas. Os gritos agressivos ao Engenheiro Aluízio eram aplaudidos, um sentimento de justiça, de trabalho, a raiva pelo atraso, tudo ia tomando conta dos trabalhadores. Pedro escutava tudo, o mesmo estava passando fome, e naquele momento o Engenheiro Aluízio e a empresa eram as piores coisas que existiam, ninguém sabia que seu Samuel seu pai também estava passando fome, seu filhinho tinha tomado pouco leite naquele dia, o leite tinha sido dado por Jeremias. Uma grande emoção foi tomando conta de Pedro, as pessoas precisavam saber o que estava acontecendo de verdade, aquele herói corajoso que jogava palavras agressivas contra Aluízio precisava saber o que se passava com ele. Foi então que tomado pela emoção ele praticamente tomou o microfone das mãos de Jorge e iniciou seu discurso:
- Gente, meu filho só teve leite hoje porque meu primo pagou ao leiteiro um litro para mim, eu to comendo pão dormido, meu pai queria minha ajuda mas num teve. Tá todo mundo lá em casa precisando desse dinheiro, minha mulher teve que ir na casa da mãe pagar um cacho de bananas. Nois temo que entender o que? Que a empresa tá com problema de banco, temo é nada. A empresa tem que pagar logo todos nós, se não nois vai passar fome.
Então Jorge fez um gesto indicando uma foto ao fotografo do sindicato, pegou novamente o microfone e se pronunciou:
- Pessoal, eu quero saber quem o Patrão que vai explorar trabalhador aqui hoje? Eu quero saber quem é o trabalhador que produzirá riquezas em vão? Eu conheço a força de vocês, conheço o grito da conquista... quem será explorado aqui hoje que fique em silencio.
Falou num tom forte e contagiante,  os trabalhadores responderam:
- Vamos para casa.
Em menos de cinco minutos não havia mais ninguém em frente a obra. 

terça-feira, 2 de julho de 2013

Pião de Trecho --- Capítulo 3: O Curso da Vida


A vida continuou boa para Pedro, pois apesar do trabalho árduo ele estava em casa todos os dias e tinha tempo para o futebol e a namorada. À medida que foi ganhando dinheiro sempre ficava de olho na compra de coisas que nunca tivera acesso. Primeiro ele colocou na cabeça que iria comprar uma televisão de dez polegadas para colocar em seu quarto. Pagou a primeira prestação e dividiu o restante em doze vezes, quando a trouxe para casa todos os vizinhos se aglomeram para ver a chegada, este estava muito orgulhoso de sua nova conquista, pois a televisão era de imagens coloridas e a outra que havia em sua casa era pequena e as imagens eram em preto e branco. Pedro decidiu que a televisão ficaria na sala e aquele seria um presente para a família.
Carine continuou na escola e à medida que seu namorado ia se firmando no emprego seus sonhos iam se tornando mais palpáveis, Pedro era um rapaz muito bom e agora trabalhando ela já pensavam em casamento. A camisinha e a preocupação por gravidez foi ficando de lado por ambas as partes, a coragem de enfrentar uma vida a dois foi aos poucos se tornando real.
Na obra tantos nos dias de sol como nos dias de chuva o encarregado Otamar não aliviava para ninguém. O ambiente na obra era extremamente competitivo e como Otamar haviam mais três encarregados:  Cirio, Iran e Ulisses. Todos eram de cidades distantes a cachoeira e faziam de tudo para convencer o Engenheiro Aluizio que a mão de obra local não era boa, o objetivo dessa articulação era trazer parentes e amigos de suas cidades. Cirio era de Salvador, Iran de Nazaré das Farinhas, Ulisses de Santo Amaro e Otamar de Santo Antonio de Jesus.  Por esse motivo Pedro não podia vacilar. Ao comando de Otamar havia 16 pessoas, sendo que sete eram Santo Antonio de Jesus, quatro eram de cachoeira (incluindo Pedro) e os outros cinco eram de Salvador. Os sete que eram mais ligados ao encarregado se aglomeravam e se comportavam como uma “panelinha“. Entre eles e o encarregado Otamar os erros eram toleráveis, se o mesmo erro acontece com alguém de fora da panelinha a punição era maior. Pedro era um menino inteligente e notou que de nada adiantava bater de frente com Otamar e seu grupo, ele foi aos poucos ganhando a confiança do feudo, mas em momento algum Otamar tirava a mira dos demais garotos, sempre dizia ao Engenheiro Aluízio:
- Esses meninos aqui da região são muito folgado, deixa eu traze meus meninos de Santo Antonio e você vai ver o que é trabalho.
O engenheiro escutava desconfiado sem emitir nenhuma opinião a respeito do assunto. Otamar tinha uma visão estratégica da obra e seus interesses na maioria das vezes eram pessoais. Era o encarregado mais próximo a Aluízio e o que conseguia os recursos do empreendimento com mais facilidade. Sua palavra era quase que lei para o engenheiro, o mesmo se sentia ajudado pelo encarregado e não enxergava as picuinhas que ele gerava no ambiente de trabalho.
Pedro fez bons amigos no empreendimento: Isac era de outro bairro de cachoeira, assim como ele estava em seu primeiro emprego e também queria comprar eletrodomésticos para a sua casa. João era de Nazaré das farinhas e estava ali por indicação do encarregado Iran. Josias era de Cruz das Almas que ficava a uns vinte quilômetros do empreendimento, ele ia e voltava todos os dias. O futebol de Pedro que era familiar aos poucos mudou um pouco de foco, pois o pessoal da obra sempre marcava para jogar os domingos pela manhã, Pedro foi permitindo que esse novo mundo invadisse sua vida e foi se afastando aos poucos dos primos Israel e Jeremias. O garoto no horário da noite não queria mais saber de escutar as estórias do seu Samuel, preferia na maioria das vezes tomar uma cervejinha com o pessoal da obra. Más ele nunca perdeu de vista em ajudar a sua família com parte do salário.
Pedro ganhou de seu pai um terreno na beira do rio e aos poucos ele foi construindo. Em um fim de semana quando precisou bater lajem para a construção da casa todos na vila o ajudaram... Pedro tinha se tornado um pouco interesseiro, pois passou a não ter tempo para os outros quando alguém precisava dele.
Jeremias foi perdendo o interesse em trabalhar na fábrica de papel, uma dura realidade se aproximava de sua vida que era o nascimento do primeiro filho, este se ofereceu para ajudar seu Mariano em troca de um pequeno salário, mas seu pai fez diferente, lhe deu uma pequena quantidade de dinheiro para que ele pudesse comprar e revender mercadorias. Jeremias mostrou grande habilidade para comercializar e em pouco tempo já tinha uma barraquinha na feira, na qual o sustento de seu filho estava garantido. Era uma vida estressante de muita preocupação, pois o salário no fim do mês não era certo e o dinheiro circulava em sua frente, mas se o mesmo não rendesse acabava. A flexibilidade era um pouco maior, os horários eram os da feira e apesar de acordar cedo todos os dias, quando era de tardinha o mesmo já estava em casa e como dono do negócio era dono do seu tempo. Diferente de seu pai ele tinha ganância (também queria eletrodomésticos) e trabalhava muito mais. Este como Pedro passou aos poucos a ajudar seu pai que não acompanhava o embalo do filho.
Israel pouco queria saber de trabalho e compromissos fixos, seu foco era mulher, farras, bebidas... sempre que podia ele ganhava dinheiro capinando terrenos, fazendo serviços de pedreiro informalmente, ajudando seu pai, etc.
Nesse ritmo as vidas de Pedro, Israel e Jeremias foram tomando seus rumos. Pedro se casou e em pouco tempo Carine engravidou. Jeremias engravidou Luiza pela segunda vez. Israel fez um filho em uma menina da vida, quanto mais velho ficava mais irresponsável se tornava.