domingo, 26 de maio de 2013

Cocadas

Estava perto de fazer 16 anos e tinha ficado nas recuperações de física e português. Minha família tinha ido passar as férias na ilha de Itaparica-BA, com esse amargo resultado eu viajava rumo á família de ônibus e o verde do recôncavo aliviava a conversa que teria com meu pai. No fundo não me arrependia de nada: do clube, dos jogos de futebol, das festas... Tinha brincado bastante e aquele era o preço. Certo momento em um dos pontos de ônibus o motorista arrancou e ia-se embora dali. Mas apareceu um menino vendendo cocada e três pessoas de dentro do ônibus gritavam:
- Para o ônibus Motô.. .cocada...cocada
Quem vendia era um menino da minha idade que usava roupas simples e havaianas. Com toda concentração que alguém pode ter... Ele correu para alcançar o ônibus com a bandeja de cocada nas mãos. As pessoas continuaram gritando:
- Motô espera aí, espera aí Motô.
Ele bem suado chegou ao destino, subiu no ônibus e vendeu três cocadas. Logo depois agradeceu a deus e se foi. Eu no ônibus continuei, envergonhado. A partir daquele dia eu comecei a saber um pouco mais da vida.


Escrito por Daniel Vidigal

domingo, 19 de maio de 2013

Troca de e-mails


Querida Andrea,

Estou escrevendo esse e-mail porque algo muito triste me aconteceu, a Priscila terminou comigo e estou sem chão, não sei o que fazer para me sentir melhor. Queria entender o que as mulheres querem. Esse foi um namoro que dei meu máximo: Viajávamos, saiamos todas as semanas, íamos ao cinema, a praia, ao teatro, existia química, tínhamos gostos parecidos, etc. Agora me vejo sem ela, simplesmente acabou. Estou coberto de raiva, só pensando o que ela pode estar fazendo e com quem ela pode estar. Enfim, queria ouvir sua opinião. Ao final você é minha amiga e conhece as mulheres melhor do que eu.
Beijos do seu amigo,
Saudades,
Paulo.



Querido amigo,
Que questionamentos tão difíceis você está me trazendo, explicar o término de um namoro... Um romance. Paulo, nós mesmas não sabemos exatamente o queremos, mesmo que em nossas conversas descrevamos um padrão, um perfil, sempre nos apaixonamos pelo inesperado. E como manter uma paixão? Eis a pergunta mais complicada, mas acho que nisso posso te dar uma ajuda, em primeiro lugar não procure entender muita coisa, simplesmente viva, e o principal: deixe a mulher “viva” no sentido literal da palavra. Se entregue a cada momento como se fosse o mais especial de suas vidas, sinta e deixe fluir. Quando se trata de sentimento pouco adianta remar contra a maré. Nós mulheres gostamos de nos sentir inseguras e seguras ao mesmo tempo, amadas e odiadas, desejadas e inconvenientes, a mais linda de todas, mas as vezes também um pouco rejeitadas, um pouco livres, quem sabe enquadradas. O fato é que você não deve sair de um relacionamento achando que fez tudo, e que estás com a razão... Porque uma coisa é fato, se ela estivesse viva nos últimos dias em que esteve com você, ainda estariam juntos. Por tanto, sinta-se privilegiado pelos momentos em que viveram, neles vocês foram felizes. A dor faz parte desse ciclo maravilhoso que a vida nos oferece e chamamos de “amor”. Espero ter lhe ajudado. E esteja pronto para a próxima, quando menos esperar algo bom maravilhoso e espontâneo estará batendo em sua porta de novo.

Beijos de Sua amiga,

Andrea. 


Escrito por Daniel Vidigal



terça-feira, 14 de maio de 2013

O miado



A gatinha aquela noite saiu para pegar o alimento do seus filhotinhos, mas foi surpreendida por uma tragédia, ao atravessar a rua um carro lhe atropelou. Três gatinhos com 4 semanas de vida choraram a noite toda, um miado bem triste... que induz o local a uma ilusão, sua mamãe irá voltar. O frio toma conta, eles tentam se aquecer mas só se atrapalham, um deles morre logo na primeira noite. O segundo morre ao amanhecer. O sobrevivente grita incansavelmente por ajuda, ele tem certeza que o resgate virá. No final do segundo dia Pedrinho o escuta, se aproxima e diz:

- Mamãe, que gatinho lindo. Vou ficar para mim.
- Nem sonhando filho, este gato está imundo.

Mas o gatinho volta a miar bastante.

- Por favor mãe.

A mãe pega uns panos de chão dentro do carro, envolve o gatinho numa caixa de papelão (resmunga um pouco) e o leva ao veterinário. O gatinho foi feliz para sempre no lar de Pedrinho.


Escrito por Daniel Vidigal

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Dose Certa




Solidão,
Aparentemente triste como um porão,
Pensando bem,
As vezes não há melhor maneira...
... de fazer contato,
Com o coração,
O mar chacoalha, 
As ondas alvas tomam diversas direções,
O universo sinaliza,
só paciência,
Em breve...
...o coração...
... se encherá novamente,
De tantas emoções,
A verdadeira,
Ausente de ilusão,
Nos leva as entranhas,
Nos identifica,
Ó solidão,
Eis aqui o nascimento,
De uma nova paixão. 

Escrito por Daniel Vidigal


quarta-feira, 8 de maio de 2013

Corda Bamba



A felicidade,
É como andar em uma corda bamba,
Com grandes ventos,
Vibrações,
Aflições,
... São tantas variáveis dentro de nós mesmos,
O que fazer?
Algo pode pular de baixo,
Visgar de cima,
Ou vir do além.
Deixe nascer,
Verdadeiras intenções,
Fluir,
E assim não andarás mais na corda,
Poderás voar,
E te deliciarás com os ventos,
E todas as tempestades.
 
Escrito por Daniel Vidigal

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Teste de aptidão




Todos que surfam na Taíba conhecem o restaurante e as aulas de surf do Toinho, ali é o local onde os surfistas guardam suas coisas, almoçam e tomam água de coco. Certa vez estava em um fim de tarde sentado no restaurante quando chegou um rapaz que limpa terrenos, ele pediu uma cerveja e sentou-se. Era magrinho, já estava bêbado e tinha uma aparência bem judiada. Em meio a conversa eu lhe perguntei:

- O que você faz?

Ele me respondeu:

- Além de limpar terrenos para comprar bebida e comida eu faço o bem- sorriu e levantou a cerveja.

Achei bem curiosa a resposta. Mas vamos em frente. Uns quinze dias depois lá estava eu novamente no restaurante do Toinho em um fim de tarde curtindo o que restava do domingo. Então o Toinho precisou sair e nos pediu para olhar o restaurante por uns quinze minutos. Do nada chega uma surfista com seu filho, uma criança de aproximadamente cinco anos precisando das chaves do carro para ir embora. Mas Toinho tinha saído. Então nosso amigo que veio a terra para fazer o bem, pega a bicicleta e diz que vai atrás do Toinho na Mercearia, em pouco tempo ele retorna com as chaves do restaurante e começa a procurar as chaves do carro da mulher. Do nada ele saí de dentro do restaurante sorrindo e entrega a chave a criança ( e não a mãe), o menino abre um sorriso e ela agradece. Liga o carro, começa a manobrar. A criança lhe dá tchau, ele solta um sorriso bem verdadeiro e acena com as mãos. Se senta e volta a beber sua cervejinha, que aquela altura já deveria estar quente.
Então eu pensei: Que profissão pouco valorizada, fazer o bem.