sábado, 9 de agosto de 2014

Sabedoria Implícita

Ilustração Fernanda Vidigal
 
 
 
Em certa vila onde fortes ventos ecoam casas adentro, vive um senhor de idade avançada, não se pode chama-lo exatamente de infeliz, mas uma coisa é fato, ele é solitário. A vida lhe reservou as mais duras experiências, nem por isso ele perdeu a vontade de brilhar. Tem a cerveja como sua fiel companheira nas longas noites de ventos fortes, outra terapia que ocupa sua mente é limpar a casa. Muitas das pessoas que lhe passaram na vida lhe trouxeram sofrimento, mas ele sempre encarou como amadurecimento, entende perfeitamente a estatística do universo. Dessas pessoas seu coração só guarda os bons momentos. Seus filhos são bem criados e são felizes, mesmo assim pouco os vê, sua natureza lhe indica ficar a pensar e pensar, tem ótimo relacionamento com a ex mulher, tem orgulho de suas crias.
A aproximação com as pessoas é complicada, seu temperamento não é exatamente o padrão, facilmente entendido. Certo dia em sua solidão uma cachorrinha lhe apareceu em sua porta, lhe bateu um certo desespero, pois em momento algum ousou abandona-la, mas era completamente incapaz de partilhar parte do seu dia com uma cadelinha. Se perguntou como havia invadido seu quintal e o que fazia ali dentro. Então comprou um pouco de ração... e cadelinha e dono da casa ficaram se encarando por horas. A cadelinha tinha aquele olhar doce... difícil interpretação, já ele bebia e mergulhava nos mais profundos questionamentos que um ser humano pode se fazer e se perguntava: De onde saiu esse animalzinho?
No outro dia pela manhã saiu a rua e perguntou a alguns garotos de quem era aquele bichinho, eles rapidamente  reconheceram “a peteca”, mora no final da rua. Até lá foi com a cadelinha e um montão de meninos atrás dele, bem sério continuou caminhando. Chegando lá não havia ninguém em casa e a peteca foi passada por cima do portão.
No dia seguinte quando chegou do trabalho eis a surpresa, lá estava ela de novo. E mais um dia ele a devolveu. Esse processo se repetiu várias vezes, ele aos poucos se apegava de certa forma a cachorrinha. Certo dia a dona de peteca se perguntou: Damos tanta atenção a essa cachorrinha, porque será que ela sempre vai a casa daquele homem? Ele por sua vez bebia, brincava mais não entendia. E a questão ficou no ar, nos fortes ventos que ainda mais dúvidas provocavam. O que será que peteca encontrou naquele senhor? Ou vice versa... mas a minha opinião é que a Peteca faz o que ninguém consegue fazer, invadir sua solidão e lhe trazer um pouco de paz.

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