Aqui começa um relato que será contado aos poucos em dez capítulos.....
Algum domingo de 1992,
Domingo a tarde era dia de jogo entre os bairros da cidade
de Cachoeira interior da Bahia, estes aconteciam em um campo na beira do rio Paraguaçu
que ficava nas propriedades da Família Nascimento. A origem da família era um
casal de escravos que foi morar ali em 1872 e aos poucos filhos, amigos, primos
e conhecidos foram chegando e ocupando aquelas terras ao lado do rio. O time da
família Nascimento estava jogando naquele dia, o outro time era da praça e era
formado por amigos que gostavam de futebol. A faixa etária dos garotos variava
entre 16 a 20 anos, enquanto eles se divertiam as famílias e as namoradas
torciam do lado de fora e a rivalidade entre os dois times era grande. No time
da Família nascimento havia um grande entrosamento entre três primos: Israel
(17 anos), Jeremias (21) e Pedro (18). O Juiz era o mesmo há muitos anos, seu
nome era João Manoel, mas como sempre apitava com cara de preocupado seu
apelido era Cara de Jaca, e das laterais as pessoas gritavam:
- Deixe de roubar Cara de Jaca. Ladrão... ladrão...
descarado. Há há ha o cara de jaca ficou doido. Cara de jaca tomou foi muito
leite de cabra estragado quando era pequeno.
Aos 20 minutos do segundo tempo (a partida durava dois
tempos de 25 minutos) o jogo estava um a um. Do nada uma bola sobrou para Pedro
na entrada da área, ele friamente dominou e chutou no cantinho. Gol! Os três primos
se abraçaram e comemoraram bastante. Carine a namorada do Pedro vibrou muito, esta
estava na flor da idade com 17 anos e era uma linda mulata que exalava o
frescor da vida, estava apaixonada e vivia seu primeiro amor. Israel não tinha
namorada naquela época, ele curtia estar com uma e outra. Jeremias já estava
noivo de Luíza e já existia um bebê a caminho, seu pai tinha lhe dado um
cantinho de terreno na beira do rio para que ali ele pudesse construir sua casa
próxima a família.
Quando o jogo acabou todos correram para o churrasco e as
duas torcidas viraram uma só, ali as famílias conversavam bastante dos diversos
e simples assuntos da vida. E a tarde foi chegando ao seu fim, o sol foi se
pondo, a cervejinha bem gelada não acabava. Alguns homens iam ficando bêbados,
outros tomavam uns puxões de orelha de suas mulheres e tinham de ir cedo para
casa...e o sol foi raiando sobre o rio com a linda vista da pedra do cavalo. Pedro
foi para casa tomar banho para mais tarde se encontrar com Carine, ele tinha
uma bicicleta de marca barra circular, o mesmo colocou Carine na garupa para
apreciar o rio durante a noite, eles foram ganhando a floresta, a lua, os
beijos foram evoluindo, o vestido que ela usava era sedutor, o short que ele
usava era escancarado, para eles a noite não tinha limites.
No dia seguinte a vida continuava e existia um lado duro e
impiedoso na realidade dessas pessoas. Seu Samuel, pai de Pedrinho, ganhava a
vida criando galinhas e vendendo sucos e ovos na cidade. O sol não tinha pena e
cada dia vencido era motivo de muito orgulho para Samuel. Sua esposa se chamava
Laurenice, e além de Pedro eles tinham tido a caçula Juliana. Pedro e Juliana
iam a escola por conselho do pai, ele lhes recomendava uma vida diferente
daquela. Pedro pedalava todos os dias 12 km para ir e vir carregando sua irmã. Dona
Laurenice passava o dia cuidando da casa, da comida, das roupas... era uma mãe muito carinhosa. Samuel todos os
dias a noite contava antigas histórias dos tempos de escravidão, essas eram
passadas de pai para filho e certo rancor pela burguesia da cidade não morria
nunca, o céu era limpo e estrelado. O pai de Jeremias e Israel tinha uma
barraquinha na feira da cidade, Seu Mariano tinha uma condição de vida um pouco
melhor, ele comprava mercadorias do Paraguai para revender em uma barraquinha
na feira da cidade: carteiras, boné, óculos, relógio, blusas, bermudas,
pochete, etc.
No sitio da Família nascimento habitavam aproximadamente 200
pessoas distribuídas entre 12 familias, todos de certa forma eram primos e
parentes. Ali existia uma união muito grande e ao mesmo tempo um número de
picuinhas insuportáveis. Mesmo com as picuinhas, quando alguém tinha um
problema a comoção era geral e todos se uniam para ajudar quem estava
precisando.
Capítulo 2 (só o começo)
Fábrica de Papel,
Nenhum comentário:
Postar um comentário