Em 2007 aos vinte e três anos tive minha primeira
oportunidade de trabalho na cidade de São Sebastião do Passé, interior da
Bahia, o local se chamava mais precisamente Taquipe. Era muito novo para as
responsabilidades que adquiri naquele momento, hoje entendo perfeitamente que
não tinha consciência de que estava comandando um barco com noventa pais de
família e que toda a qualquer decisão e atitude minha, provocava impacto na
vida daquelas pessoas. Cometi injustiças, demiti funcionários embalado em ondas
de fofocas. Mas vamos a parte interessante da estória, pois não posso mais
voltar no tempo. Logo que cheguei havia um funcionário que ficava na portaria
conferindo a entrada e saída de veículos, fui informado naquele dia que se
tratava de um sujeito perigoso, um criminoso que havia se infiltrado na empresa
e eleito membro da CIPA, por isso a empresa não o poderia demitir, era
recomendado que ficasse afastado de toda a qualquer atividade no campo que
tinha uma extensão de 30 Km. Naquele momento concordei com todas as recomendações.
Alguns meses depois o Engenheiro de Segurança da empresa me informou que ele
não poderia ficar naquela função, pois era desvio, e se fosse de ficar na
empresa que realizasse seu trabalho. Pensei em uma alternativa e decidi que ele
se tornaria ajudante da manutenção, pois a oficina ficava ao lado do escritório,
ou seja estaríamos sempre de olhos abertos. Chamei-o para uma conversa e lhe
expliquei que ele não seria mais carpinteiro, mas sim ajudante da Manutenção,
ele continuaria com o mesmo salário, mas aprenderia uma nova profissão, pois
mecânica era uma atividade digna.
Essa primeira experiência durou cerca de dois anos, nesses
tempos pude desfrutar de todas as pseudo amizades que um chefe pode arranjar.
No final da obra a empresa em que trabalhava não tinha conseguido renovar o
contrato, por isso nossos trabalhos estavam com os dias contados. A nova
empresa tinha total interesse em empregar as pessoas que já conheciam o
trabalho e a área, então me vi em uma situação complicada, pois tinha que
concluir os trabalhos do contrato, além de desmobilizar um canteiro inteiro,
sendo que, todos queriam pular fora do barco. Então era uma luta para segurar os
funcionários, pois eles queriam se empregar na nova firma. A situação final foi
a seguinte, apenas um montador de andaimes, um carreteiro, o ajudante de
manutenção (o mesmo) e um ajudante não abandonaram o barco. O trabalho para
desmobilizar o canteiro era duro. Tinhamos que carregar carretas, organizar
estantes, pintar paredes, etc. O que mais me chamava atenção era o ajudante da
mecânica, trabalhava tudo o que a empresa precisava naquele momento, era um
leão. No final de tudo, quando tivemos sucesso e entregamos a chave do canteiro,
tive a curiosidade de lhes perguntar porque não pressionaram para serem
demitidos e irem para a outra firma. O carreteiro respondeu: Quando acabar aqui
vou fazer umas entregas no Rio Grande do Sul. O montador de andaimes: Tenho
pressa não, até essa firma embalar demora. O ajudante: Quando meu pai entrar
ele me leva junto. Por fim o ajudante da mecânica: A oito anos atrás cometi um
crime, um sujeito covarde bateu meu no meu filho, perdi a cabeça e lhe dei uma
facada, por sorte ele não morreu, mas fui processado e preso. Passei dois anos
na cadeia, perdi minha dignidade e respeito. Aqui você me deu a oportunidade de
uma nova profissão, mecânico, posso trabalhar e ganhar a comida da família em
qualquer lugar agora, pois aprendi muita coisa, a vida me deu uma nova chance.
Sou muito agradecido a você.
Pouco pude concluir daquilo tudo, minhas intenções não eram
boas, mas acabei fazendo o bem. Algum aprendizado me trouxe, pois não esqueci
até hoje. Tenho minhas conclusões a respeito disso tudo, mas isso aí já é coisa
minha.
Daniel Vidigal
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