domingo, 1 de junho de 2014

Eu Preconceituo... tu preconceituas...



 
 
Em 2007 aos vinte e três anos tive minha primeira oportunidade de trabalho na cidade de São Sebastião do Passé, interior da Bahia, o local se chamava mais precisamente Taquipe. Era muito novo para as responsabilidades que adquiri naquele momento, hoje entendo perfeitamente que não tinha consciência de que estava comandando um barco com noventa pais de família e que toda a qualquer decisão e atitude minha, provocava impacto na vida daquelas pessoas. Cometi injustiças, demiti funcionários embalado em ondas de fofocas. Mas vamos a parte interessante da estória, pois não posso mais voltar no tempo. Logo que cheguei havia um funcionário que ficava na portaria conferindo a entrada e saída de veículos, fui informado naquele dia que se tratava de um sujeito perigoso, um criminoso que havia se infiltrado na empresa e eleito membro da CIPA, por isso a empresa não o poderia demitir, era recomendado que ficasse afastado de toda a qualquer atividade no campo que tinha uma extensão de 30 Km. Naquele momento concordei com todas as recomendações. Alguns meses depois o Engenheiro de Segurança da empresa me informou que ele não poderia ficar naquela função, pois era desvio, e se fosse de ficar na empresa que realizasse seu trabalho. Pensei em uma alternativa e decidi que ele se tornaria ajudante da manutenção, pois a oficina ficava ao lado do escritório, ou seja estaríamos sempre de olhos abertos. Chamei-o para uma conversa e lhe expliquei que ele não seria mais carpinteiro, mas sim ajudante da Manutenção, ele continuaria com o mesmo salário, mas aprenderia uma nova profissão, pois mecânica era uma atividade digna.

Essa primeira experiência durou cerca de dois anos, nesses tempos pude desfrutar de todas as pseudo amizades que um chefe pode arranjar. No final da obra a empresa em que trabalhava não tinha conseguido renovar o contrato, por isso nossos trabalhos estavam com os dias contados. A nova empresa tinha total interesse em empregar as pessoas que já conheciam o trabalho e a área, então me vi em uma situação complicada, pois tinha que concluir os trabalhos do contrato, além de desmobilizar um canteiro inteiro, sendo que, todos queriam pular fora do barco. Então era uma luta para segurar os funcionários, pois eles queriam se empregar na nova firma. A situação final foi a seguinte, apenas um montador de andaimes, um carreteiro, o ajudante de manutenção (o mesmo) e um ajudante não abandonaram o barco. O trabalho para desmobilizar o canteiro era duro. Tinhamos que carregar carretas, organizar estantes, pintar paredes, etc. O que mais me chamava atenção era o ajudante da mecânica, trabalhava tudo o que a empresa precisava naquele momento, era um leão. No final de tudo, quando tivemos sucesso e entregamos a chave do canteiro, tive a curiosidade de lhes perguntar porque não pressionaram para serem demitidos e irem para a outra firma. O carreteiro respondeu: Quando acabar aqui vou fazer umas entregas no Rio Grande do Sul. O montador de andaimes: Tenho pressa não, até essa firma embalar demora. O ajudante: Quando meu pai entrar ele me leva junto. Por fim o ajudante da mecânica: A oito anos atrás cometi um crime, um sujeito covarde bateu meu no meu filho, perdi a cabeça e lhe dei uma facada, por sorte ele não morreu, mas fui processado e preso. Passei dois anos na cadeia, perdi minha dignidade e respeito. Aqui você me deu a oportunidade de uma nova profissão, mecânico, posso trabalhar e ganhar a comida da família em qualquer lugar agora, pois aprendi muita coisa, a vida me deu uma nova chance. Sou muito agradecido a você.

Pouco pude concluir daquilo tudo, minhas intenções não eram boas, mas acabei fazendo o bem. Algum aprendizado me trouxe, pois não esqueci até hoje. Tenho minhas conclusões a respeito disso tudo, mas isso aí já é coisa minha.
 
Daniel Vidigal

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