No dia seguinte todos fizeram os exames e depois já assinaram as carteiras de trabalho. Aquelas torres, aqueles grande tanques, aquelas pessoas andando de um lado para outro... esse mundo industrial deixava Pedro impressionado.
Aos poucos ele foi se enturmando e entrando no espírito do
trabalho do time de Ulisses. A sua equipe foi formada com as pessoas do próprio
quarto. Nobrega era o encanador líder da equipe, este já estava a 16 anos no
trecho e bebia todos os dias. Jackson era o lixador, era evangélico estava no
trecho a 12 anos, passava as noites rezando e seu objetivo era ganhar dinheiro
no trecho e depois sair. Jarbas era o soldador, estava no trecho a seis anos e
sempre que podia saia para paquerar garotas. Haviam mais três ajudantes:
Junior, Sales e Pablo... estes como Pedro estavam em sua primeira empreitada e
passavam por sensações parecidas. Ulisses passava todos os dias no quarto para
contar as novidades do empreendimento: Os equipamentos que chegavam, local onde
eles trabalhariam. Sempre trazia umas cervejinhas para ficar conversando com
o pessoal. O seu maior objetivo com esta ação era unir e equipe e fazer com
todos se sentissem integrados ao seu grupo. A entrada dos trabalhadores na obra
era impressionante, todos os dias entravam 2000 mil homens. Então o trabalho
árduo foi começando, havia que carregar tubos metálicos pesados, carregar os
equipamentos de solda, deixar a área limpa, levemente aquele ambiente
industrial foi se tornando Familiar para Pedro, em compensação ele começou a
entrar no embalo de tomar uma cervejinha todos os dias, ela aparentemente
aliviava a saudade de casa e o desligava do dia estressante. Todos os dias ele
ligava para Carine para saber dela e dos filhos, e lhe dizia que o fim do mês
estava chegando, que ele mesmo iria ao banco depositar o dinheiro, que não iria
faltar nada em casa. Carine apenas lhe dizia:
- Pedro o Tiago está morrendo de saudade, volta logo. Você
paga essas dívidas e volta para casa.
Ele escutava mas estava se contagiando com a
cultura de estar fora de casa, ele foi enraizando a pegada das obras
de montagem, onde muito se bebe, se trabalha, se diverte, se brinca, se fofoca,
etc. A vida do trecho apesar dos sacrifícios tem diversos encantos. O
trabalhador de campo tem uma maneira boa de encarar o ambiente de trabalho,
quando ele está satisfeito, brinca muito, coloca apelidos dos mais
engraçados... namoram as meninas que o momento oferece. Nesse mundo Pedro foi mergulhando,
ali foi ganhando dinheiro, o casamento foi esfriando, as idas a casa eram de
três em três meses. Carine queria que aquela solidão acabasse logo, ela não procurava
pensar o que Pedro poderia estar fazendo.
Perto das obras sempre se formam bares que são frequentados
em sua maioria por trabalhadores. No caso de Cubatão existia um sambinha
todos os dias, e nesses bares as mulheres sedentas por wisk não demoram de
aparecer. Pedro começou indo um dia por semana, depois dois, depois três...
sempre que podia namorava as meninas, começou a ficar viciado em horas extras
para ganhar mais dinheiro, pois as farras eram caras, mesmo assim em casa nada
faltava. Um ano se passou, Pedro tinha ido apenas três vezes em casa e ele já
era membro permanente e competente da equipe de Ulisses. E já conversava em
quantas toneladas sua equipe iria montar naquele mês. Já Carine, agradecia a
Deus por não estar passando fome, pois nada faltava em casa, mas queria Pedro
pertinho dela dando atenção a sua família, pois as dívidas já estavam pagas e
Carine não entendia porque ele não largava aquela vida maluca.
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