A vida continuou boa para Pedro, pois apesar do trabalho árduo ele
estava em casa todos os dias e tinha tempo para o futebol e a namorada. À
medida que foi ganhando dinheiro sempre ficava de olho na compra de coisas que
nunca tivera acesso. Primeiro ele colocou na cabeça que iria comprar uma
televisão de dez polegadas para colocar em seu quarto. Pagou a primeira
prestação e dividiu o restante em doze vezes, quando a trouxe para casa todos
os vizinhos se aglomeram para ver a chegada, este estava muito orgulhoso de sua
nova conquista, pois a televisão era de imagens coloridas e a outra que havia
em sua casa era pequena e as imagens eram em preto e branco. Pedro decidiu que
a televisão ficaria na sala e aquele seria um presente para a família.
Carine continuou na escola e à medida que seu namorado ia se
firmando no emprego seus sonhos iam se tornando mais palpáveis, Pedro era um
rapaz muito bom e agora trabalhando ela já pensavam em casamento. A camisinha e
a preocupação por gravidez foi ficando de lado por ambas as partes, a coragem
de enfrentar uma vida a dois foi aos poucos se tornando real.
Na obra tantos nos dias de sol como nos dias de chuva o
encarregado Otamar não aliviava para ninguém. O ambiente na obra era
extremamente competitivo e como Otamar haviam mais três encarregados: Cirio, Iran e Ulisses. Todos eram de cidades
distantes a cachoeira e faziam de tudo para convencer o Engenheiro Aluizio que
a mão de obra local não era boa, o objetivo dessa articulação era trazer
parentes e amigos de suas cidades. Cirio era de Salvador, Iran de Nazaré das
Farinhas, Ulisses de Santo Amaro e Otamar de Santo Antonio de Jesus. Por esse motivo Pedro não podia vacilar. Ao
comando de Otamar havia 16 pessoas, sendo que sete eram Santo Antonio de Jesus,
quatro eram de cachoeira (incluindo Pedro) e os outros cinco eram de Salvador. Os
sete que eram mais ligados ao encarregado se aglomeravam e se comportavam como
uma “panelinha“. Entre eles e o encarregado Otamar os erros eram toleráveis, se
o mesmo erro acontece com alguém de fora da panelinha a punição era maior.
Pedro era um menino inteligente e notou que de nada adiantava bater de frente
com Otamar e seu grupo, ele foi aos poucos ganhando a confiança do feudo, mas
em momento algum Otamar tirava a mira dos demais garotos, sempre dizia ao
Engenheiro Aluízio:
- Esses meninos aqui da região são muito folgado, deixa eu
traze meus meninos de Santo Antonio e você vai ver o que é trabalho.
O engenheiro escutava desconfiado sem emitir nenhuma opinião
a respeito do assunto. Otamar tinha uma visão estratégica da obra e seus
interesses na maioria das vezes eram pessoais. Era o encarregado mais próximo a
Aluízio e o que conseguia os recursos do empreendimento com mais facilidade.
Sua palavra era quase que lei para o engenheiro, o mesmo se sentia ajudado pelo
encarregado e não enxergava as picuinhas que ele gerava no ambiente de
trabalho.
Pedro fez bons amigos no empreendimento: Isac era de outro
bairro de cachoeira, assim como ele estava em seu primeiro emprego e também
queria comprar eletrodomésticos para a sua casa. João era de Nazaré das
farinhas e estava ali por indicação do encarregado Iran. Josias era de Cruz das
Almas que ficava a uns vinte quilômetros do empreendimento, ele ia e voltava
todos os dias. O futebol de Pedro que era familiar aos poucos mudou um pouco de
foco, pois o pessoal da obra sempre marcava para jogar os domingos pela manhã,
Pedro foi permitindo que esse novo mundo invadisse sua vida e foi se afastando
aos poucos dos primos Israel e Jeremias. O garoto no horário da noite não
queria mais saber de escutar as estórias do seu Samuel, preferia na maioria das
vezes tomar uma cervejinha com o pessoal da obra. Más ele nunca perdeu de vista
em ajudar a sua família com parte do salário.
Pedro ganhou de seu pai um terreno na beira do rio e aos
poucos ele foi construindo. Em um fim de semana quando precisou bater lajem
para a construção da casa todos na vila o ajudaram... Pedro tinha se tornado um
pouco interesseiro, pois passou a não ter tempo para os outros quando alguém
precisava dele.
Jeremias foi perdendo o interesse em trabalhar na fábrica de
papel, uma dura realidade se aproximava de sua vida que era o nascimento do
primeiro filho, este se ofereceu para ajudar seu Mariano em troca de um pequeno
salário, mas seu pai fez diferente, lhe deu uma pequena quantidade de dinheiro
para que ele pudesse comprar e revender mercadorias. Jeremias mostrou grande habilidade
para comercializar e em pouco tempo já tinha uma barraquinha na feira, na qual
o sustento de seu filho estava garantido. Era uma vida estressante de muita
preocupação, pois o salário no fim do mês não era certo e o dinheiro circulava
em sua frente, mas se o mesmo não rendesse acabava. A flexibilidade era um
pouco maior, os horários eram os da feira e apesar de acordar cedo todos os
dias, quando era de tardinha o mesmo já estava em casa e como dono do negócio
era dono do seu tempo. Diferente de seu pai ele tinha ganância (também queria
eletrodomésticos) e trabalhava muito mais. Este como Pedro passou aos poucos a
ajudar seu pai que não acompanhava o embalo do filho.
Israel pouco queria saber de trabalho e compromissos fixos,
seu foco era mulher, farras, bebidas... sempre que podia ele ganhava dinheiro
capinando terrenos, fazendo serviços de pedreiro informalmente, ajudando seu
pai, etc.
Nesse ritmo as vidas de Pedro, Israel e Jeremias foram
tomando seus rumos. Pedro se casou e em pouco tempo Carine engravidou. Jeremias
engravidou Luiza pela segunda vez. Israel fez um filho em uma menina da vida,
quanto mais velho ficava mais irresponsável se tornava.
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