quinta-feira, 18 de julho de 2013

Pião de Trecho --- Capítulo 6: Desempregado


No dia em que foi demitido Pedro olhava o rio, as arvores, sequer sabia com que cara iria chegar em casa. O dinheiro já estava curto com o emprego... agora desempregado o mesmo não tinha tempo de processar o ocorrido. Aquele foi seu primeiro trabalho e com ele havia estabelecido a projeção de uma nova vida. Pensava em sua vida gostosa de casado, em Carine grávida de novo, no Som, no fogão, na geladeira, no sofá... naquela casinha arrumada, mas ele precisava estar trabalhando para manter todos aqueles sonhos. Suas responsabilidades e obrigações lhe pesavam como uma navalha. Um sentimento de ódio de Otamar e Aluízio tomou conta dele, se arrependia de ter subido naquele palanque, mas vida de pião é assim, não é dono de empresa, um dia pode estar trabalhando o outro pode estar na rua. A ideia de Carine grávida. Há! Essa era a pior de todas, a chegada de cada eletrodoméstico em sua casa, dos presentes comprados para seu filho.  O termo utilizado para a demissão do pião de trecho é “amarrar a lata”, a primeira amarração de lata o pião nunca esquece. Chegando  em casa deu a noticia que fora demitido, sua esposa teve sensações parecidas e de desepero... mas foi mais sábia que ele e lhe instruiu que mantivesse a calma, haviam direitos a receber até trabalhar de novo. Poucos dias depois ele recebeu todo o dinheiro do seu processo demissional, a grana era boa, mas a sensação de desemprego dilacerava sua auto-estima. E as prestações dos móveis e dos eletrodomésticos eram pesadas. Em poucos meses após a demissão nasceu sua filha e deram lhe o nome de Gabriela, a alegria tomou conta da casa, um bebê animava os ânimos de todos, mas os compromissos permaneciam. Até que a grana  acabou, então ele virou um leão e começou a ganhar dinheiro com o que aparecia, sua experiência em obras lhe permitia um número grande de trabalhos informais, mas esse dinheiro não era suficiente para equilibrar as contas, pois haviam muitas prestações. Carine percebeu que o problema de todo aquele desgaste estava nas contas atrasadas dos bens materiais, então lhe sugeriu que tudo fosse vendido e assim poderiam viver com pouco, mas em paz, ela escutou:
- Tá doida, vamo andá pá trás é mulé? Já já eu acho outro emprego, daqui de casa num sai nada, é tudo nossas conquista.
Em pouco tempo Pedro se tornou estressado e pouco carinhoso, trabalhava demais e a instabilidade financeira acabava com ele. Ele tinha certeza que a qualquer momento um novo emprego bom iria aparecer. Um dia ele foi pedir dinheiro emprestado ao seu primo Jeremias e escutou:
- Pedro, tu nem um sofá milhó que o meu, tua televisão é colorida... tú que se livrar das divida? Vende tuas coisa.
Por algum motivo na mente de Pedro ele achava que Jeremias tinha a obrigação de arcar com suas dívidas. O mesmo saiu em direção ao rio nervoso  e inconformado, lá tomou um banho para ver se passava o estresse, em vão. Diferente do primeiro filho, agora era um pai emocionalmente um pouco mais distante com Gabriela.  

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