domingo, 14 de julho de 2013

Pião de Trecho --- Capítulo 5: As consequências


Pedro quando chegou em casa explicou a família o ocorrido, o mesmo tinha sido corajoso em lutar pelos seus direitos, a partir daquele dia os exploradores nunca mais iriam deixar de pagar, tinha passado a conhecer a força do trabalhador, o Jorge iria lhes defender para sempre. Seu pai Samuel que pouco sabia de trabalhos de carteira assinada, mas muito sabia da vida informou que o mesmo se precipitou:
- Filho, você deveria ter tido um pouco mais de paciência, esses sindicalistas viajam o país atrás de bagunça e depois vão embora. Nois do campo devemos lutar pelos direito, mas também devemo cuida do nosso ganha pão, filho acho que você foi um pouco inocente.
Pedro tentou argumentar de todo jeito para seu pai, sua irmã escutava tudo com muita atenção, mas não conseguiu convencer. Samuel finalizou a conversa:
- Agora só resta rezar a Deus.
No dia seguinte todos retornaram ao trabalho como se nada tivesse acontecido, a secretária de Aluízio avisou que poderiam sair ao meio o dia com o cheque em mãos e recolher o pagamento no banco. O Gerente regional, Rodrigo, que era chefe de Aluízio estava na obra naquele dia, ele não aceitava a greve mesmo com o atraso do pagamento.
- Aluízio, que porra de controle é esse que você tem sobre seus funcionários, que apenas quatro dias de atraso são suficientes para uma paralisação? Que caralho de chefe de obra você é?
- Fui surpreendido, o Sindicato apareceu aqui sem avisar, sequer nos deu uma chance de negociar. E rapaz, o pior de tudo, vocês pagaram depois da paralisação, fica parecendo que só funcionamos sobre pressão. Sinceramente é muito complicado segurar essa turma com atraso de pagamento. ..
Ficaram discutindo nessa linha durante uns cinco minutos, o sindicalista Jorge seguiu para o sul da Bahia para realizar novas fiscalizações, em cada obra o mesmo tinha seus informantes e isso facilitava as paralisações. Otamar circulava do lado de fora da sala, o mesmo dava tudo por saber o que aqueles dois conversavam. Ele bem oportunista, bateu na porta e entrou:
- Bom dia Seu Engenheiro, agora eu quero saber o que vamos fazer com os grevista? Bota para trabalhar ou coloca eles para a rua.
Rodrigo se interessou pelo assunto e perguntou:
- Como assim grevistas?
- Esses menino aqui da região, foi quem fizeram a greve, tudo grevista, não gostam de trabalho não, é só dor de cabeça.
Aluízio ficou pensativo e deu sua opinião:
- É verdade, todo o movimento de paralisação foi realizado por um menino da região que eu mesmo contratei, devemos fazer uma limpeza.
- Tudo bem, Aluízio agora não é momento de demitir grevistas, deixa a poeira baixar e você os demite como corte de gastos, assim terá tempo para melhorar a sua equipe. Você tem 45 dias- finalizou Rodrigo fechando sua pasta e indo embora.
Cada dia de trabalho era terrível para Pedro, assim como Samuel tinha alertado o sindicalista Jorge ganhou o mundo e nunca mais apareceu, a vulnerabilidade em relação ao patrão voltou ao normal, o comportamento estranho do encarregado Otamar o assustava. Sua vida já era cheia de compromissos e para complicar ainda mais sua situação financeira Carine estava grávida de novo. Ele se arrependia todos os dias de ter subido naquela pampa discursar. O engenheiro Aluízio não falava mais direito com ele e isso também o preocupava.
Exatamente após 45 dias do término da greve Pedro e todos de Cachoeira da equipe de Otamar foram demitidos. No dia seguinte os substitutos chegaram, todos eram de Santo Antonio de Jesus, a mesma cidade de Otamar. Em poucos meses a situação financeira da obra voltou ao normal, o sindicalista Jorge se elegeu deputado estadual e Pedro ficou desempregado com três bocas para alimentar. Pela primeira vez na vida sentiu de verdade o peso, a crueldade e as injustiças que o mundo reserva a algumas pessoas. 

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